sábado, 8 de novembro de 2008

EXCITAÇÃO DA SEMANA: O NOVO PUNK


Abe Vigoda, Skeleton (Universal, 2008)
“Punk's not dead” era um lema de meados dos anos 80, celebrizado por um tema dos Exploited, que tinha uma casmurrice de beato. Mas hoje a frase ganha uma outra actualidade como diagnóstico verdadeiro do que se passa na música em 2007-08.
Nos dias que correm, o punk perdeu a palidez de doente de há vinte anos e nem sequer necessita da plástica artificial que o mainstream de Green Day e afins nele investiu nos anos 90. Está vivinho da silva. Viril, criativo e descentralizado de um epicentro geográfico. Mas diferente.

O destino exótico da moda já não é a Jamaica do reggae mas a Nigéria do afrobeat, onde bandas indie pop adoráveis como os Yeasayer ou os Vampire Weekend descobrem o seu "ouro negro". Que o digam casos recentes como os californianos Abe Vigoda que com o seu álbum recente Skeleton (o terceiro tomo da discografia) generalizaram a aplicação do termo "punk tropical".
White Denim, Workout Holiday (Full Time Hobby, 2008)
Porém, as músicas mais experimentais dos Abe Vigoda são um carrossel veloz que as convenções ainda não têm tempo para apanhar. Na intimidade com o formato apetecível da canção, o punk mais versátil dos White Denim ganha aos pontos.
O disco longo Workout Holiday, que baptiza o trio texano nas lojas europeias, é um interessantíssimo retrato-tipo do punk contemporâneo. A pesca já não é tanto à linha ríspido-minimal clássica mas à rede vasta de músicas diversas que estão acessíveis ao comum internauta.
Outra característica do punk de hoje que Workout Holiday salienta é a inspiração da funcionalidade do laptop num motor de busca musical mais humano e arcaico, elaborado e criado pelos velhos meios suados entre as quatro paredes de uma garagem.
A entrada do álbum dos White Denim é, desde logo, triunfal: os dois primeiros temas “Let’s Talk About It” e “Shake Shake Shake” prenunciam Workout Holiday como um clássico instantâneo com aquela capacidade de concisão punk ao elementar que chama bandas de culto compatriotas como os Hüsker Dü ou os Minutemen para a árvore genealógica do grupo.

Sem perder o fogo, o grupo multiplica depois as pistas musicais. Sempre com o condimento punk na mistura, a banda experimenta os mais diversos cozinhados: a trova glam ao piano, o psicadelismo com caril indiano à Ravi Shankar ou aquele psicadelismo florido e mais ocidentalizado à Love, o mod-rock dos Who de um ginásio de musculação mais exigente e o picante africano nos acordes de guitarra de ensaios furiosamente rockeiros.
Workout Holiday é uma óptima prova de que o fôlego físico e o conhecimento enciclopédico combinam.
Texto editado de artigo publicado no Cotonete que pode ler aqui.

Sem comentários: