segunda-feira, 27 de julho de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: THE BATS, «THE GUILTY OFFICE»

"The Guilty Office" é um belíssimo tomo de canções, movido por um romantismo pueril e por uma moderação pop que os aproxima muito aos Go-Betweens, com aquele espírito desinteressado por carreiras, concentrando-se apenas na música pela música. A batidinha velvetiana, a vozinha feminina (da guitarrista Kaye Woodward) na hora do refrão, os pequenos flirts à folk ou aquela meiguice intelectual são factores que empurram o sétimo álbum dos Bats para comparações com os Go-Betweens.

É verdade que a sobre-ocupação do líder Robert Scott em vários projectos (como os históricos pós-punks Clean, os The Magick Heads, a carreira a solo, mas há mais) interrompe rotinas e prejudica a afirmação da banda, mas nada justifica a desvalorização que tem vitimado os Bats. E este álbum incentiva essa indignação. Já são mais de vinte anos a produzir maravilhas. É hora de lhes prestarmos mais atenção. (Hidden Agenda, 2008)
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

OS 100 MELHORES ÁLBUNS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.
92º U2 – Zooropa (1993)
A última obra de outro mundo dos U2. Brian Eno tem a palavra nas manobras pop do satélite Zooropa, que detectam no éter uma interpretação assombrosa de Johnny Cash, em “Wanderer”.

3 músicas a ouvir: “Numb”, “Wanderer”, “Dirty Day”.

91º Pavement – Wowee Zowee (Big Cat, 1995)
O maior mosaico inter-estilos da discografia do grupo: punk sujo, country-rock, melodias pop, tudo. Aqueles acordes de guitarra que abrem “Grounded” pedem eternidade.

3 músicas a ouvir: “Grounded”, “Grave Architecture”, “AT & T”.

PS – Lista pessoal elaborada em Abril e Maio de 2009.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

ALIVE!09: RESCALDO EM 1/3


O saldo pessoal da 3ª edição do Optimus Alive! deste ano que faço é o do segundo dia, o único em que estive no Passeio Marítimo de Algés. Sou ainda mais específico e centro-me nas duas únicas propostas que me encheram as medidas (o que já não foi mau), todas elas do palco secundário mais importante, aquele mesmo da tenda Super Bock.
Sobre os Hadouken!, a sua actuação foi um empurrão violento para a festa que a enorme multidão que se concentrava naquela zona não se importou de sofrer. A fusão que fazem entre grime, indie rock, electrónica e até alguns power chords de metal, ou aquilo a que se chama de grindie, é um barril de pólvora ao vivo. Com batidas electrónicas fortes e um tapete denso de sintetizadores, os Hadouken! colocam o electro-pop na rua.
Os Fischerspooner deram um dos espectáculos mais bem trabalhados do festival. A experiência de ver ao vivo um projecto que nos habituámos a ouvir em discotecas, durante o furor do electroclash, era já de si interessante. Mas ver aquela figura glam do vocalista Casey Spooner, a lembrar um velho ícone excêntrico dos anos 70 chamado Jobriath, a dançar com espelhos e a cantar com uma intensidade dramática sobre um som synth-pop que é oitentista e ao mesmo tempo contemporâneo e futurista, dá ao concerto um impacto considerável para quem vê, que aumenta com a coreografia de quatro bailarinas a dançar o ritmo agressivo do electroclash.


Partes do texto retirados de reportagens publicadas para o Cotonete.

domingo, 12 de julho de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: OFFICIAL SECRETS ACT, «UNDERSTANDING ELECTRICITY»


Se por acaso se sentir cansado ou deprimido, não tome nenhum químico. Consuma antes este álbum de estreia dos Official Secrets Act, "Understanding Electricity", que muda a disposição pelas melhores razões se, por acaso, tiver alguma inclinação pelo indie rock.

É um pós-punk arrebitado, doce e orelhudo, com uma batida veraneante e um apelo poppy. O quarteto de Leeds liderado por Tom Charge Burke fervilha como os Undertones e encaixa em melodias simpáticas tão bem como os XTC. Mas há também elementos de maior contemporaneidade: o baixo soa à Pixies, os tecladinhos fazem lembrar os Wannadies, os refrões empolgantes trazem à memória os New Pornographers e os corinhos convidam a comparações com os Clap Your Hands Say Yeah.

Cada canção dá um óptimo single; ouvindo-se "Understanding Electricity" parece que é fácil fabricar hits, mesmo que com toda aquela integridade indie. (One Little Indian, 2009)

Pode ler artigo desenvolvido no site Cotonete.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

RELÍQUIAS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.

Heavenly - Operation Heavenly (Wiiija, 1996)
Conjunto leve de canções pop frágeis e elegantes, zelosamente guardadas em segredo para um pequeno culto. Quem ficou a perder foi o resto do mundo.
3 músicas a ouvir: “Space Manatee”, “Trophy Girlfriend” e “Nous Ne Sommes Pas des Anges”.

PS – Lista paralela aos 100 Melhores Álbuns dos Anos 90.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

OUTRAS EXCITAÇÕES

Seguem-se outras duas excitações recentes, dispostas por ordem decrescente de preferência.

Felice Brothers, Yonder Is the Clock (Team Love, 2009)
O álbum mais recente do agora quinteto americano, "Yonder Is The Clock", é uma maravilha de folclore pop nómada, transportada numa carroça de burros, que lhes dá uns ares de primos dos Walkmen lá da terriola. O fantasma de Bob Dylan também mete aqui o bedelho.


João Coração, Muda Que Muda (FlorCaveira, 2009)
O modo informalmente arcaico das canções de Coração convida liberdades maiores. E por isso, tudo encaixa tão bem, da melódica de Walter Benjamin ao contrabaixo de Miguel Gelpi à parceria vocal feminina de Lúcia Vaz Pato.

"Muda Que Muda" é um álbum despreocupadamente belo, feito de baladinhas luso-country, de corinhos solidários, de algumas razias ao nosso folclore e de uma erudição pouco clássica.
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

domingo, 5 de julho de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: GOLDEN SILVERS, «TRUE ROMANCE»


É uma das estreias mais estimulantes do ano, o primeiro longo dos Golden Silvers, "True Romance". O trio londrino comandado pelo multi-instrumentista e vocalista Gwilym Gold apresenta-nos uma pop com QI elevado, que inclui letras elaboradas que envergonham a banalidade e um manancial de música extenso composto por melodias indie pop muito inglesas (com o seu quê de Housemartins), pinceladas de funk e alguma tecnologia disco sound.

A pop é aveludada e a forma de cantar de Gwilym Gold mostra-se aristocrata, citando-se a elegância de nomes dos anos 80 como os Prefab Sprout ou banda actuais como os Elbow. (XL, 2009)
Extraído de texto escrito para o Cotonete, para a secção Cotonete Play.

sábado, 4 de julho de 2009

MICHAEL JACKSON (1958-2009): O GRANDE E.T. MUSICAL


À uma da manhã ligo a rádio para ouvir as notícias. Ou melhor, para ouvir a notícia, porque as outras já não consegui dar atenção. A frase “Michael Jackson morreu” teve em mim um impacto fictício, mas ao mesmo tempo já a esperava. Claro que não naquele dia, não daquela forma. Mas havia no ar um prenúncio de desgraça. O homem não estava bem.

Michael Jackson sempre teve um défice de normalidade. Na primeira metade da sua vida (até 1983), pelas melhores razões. Na segunda metade, pelas piores.

O astro de Gary era um sobredotado da música com um poleiro humanamente inatingível para um indivíduo de 24 anos e meio. Com aquela idade tinha já atrás de si um percurso público de quase década e meia. E o que tinha feito e que estava prestes a fazer não era pouco. Foi o menino-prodígio dos Jackson 5, que acumulavam êxitos e recordes de vendas inimagináveis. Iniciou, paralela e precocemente, uma carreira a solo ainda na fase etária do armário e ganhou dentro da Motown uma autonomia autoral face ao produtor que Marvin Gaye e Stevie Wonder só obtiveram em idade bem mais madura. Ainda menor, Michael Jackson tornou-se na primeira estrela da Motown a não caber naquela fábrica de êxitos (e não estamos a falar de uma editora qualquer).

Mas faltava muito mais, em pouco tempo. Michael Jackson era uma espécie de nadador de estilos, campeão em várias categorias, navegando à vontade nos mais diversos géneros: da soul ao funk, da pop ao disco-sound. Quando transformou esses géneros num híbrido empolgante e avançado que fez de Thriller uma obra visionária em 1982-83 (e que o antecessor Off the Wall fazia adivinhar), Michael Jackson merecia passar de príncipe a rei, subindo ao trono da pop onde estava a sua coroa. Para isso, fundou ainda um concepção de espectáculo ao vivo bastante mais exigente que colocava ao mesmo nível a imagem, a dança, a música e luzes, e revolucionou o conceito de promoção de um disco através dos videoclips e da MTV (numa relação profícua que alimentou mutuamente a estrela e a estação televisiva em afirmação). Como se não bastasse, Thriller, empurrado pela edição em número-record de sete singles (e, claro, de sete videoclips), tornou-se no álbum mais vendido de sempre – Thriller vendeu até hoje 109 milhões de cópias, mais do dobro do número de vendas do segundo álbum mais vendido, Back in Black dos AC/DC (a sua cifra está em 45 milhões). Aos vintes e poucos anos, o que Michael Jackson já tinha atingido era de um escala pouco terrena.

Lamenta-se, por isso, o que se seguiu: sobras que, de álbum para álbum, se afastaram cada vez mais da qualidade da obra-prima Thriller. Michael Jackson foi-se tornando numa sombra pálida de si mesmo, numa caricatura troçável bloqueada nos seus tiques, à medida que foi perdendo contacto com a realidade através de uma vida estranha e extravagante que poucos conseguiam compreender. O declínio nunca parou; o planeta que o aclamava, Michael Jackson conhecia-o cada vez menos. A magia foi murchando.

Fui uma das muitas crianças que chorou de medo quando viu pela primeira vez o vídeo da canção Thriller, realizado por John Landis. Era um misto de fascínio e de temor. Mas o fascínio foi vencendo – descobria naquele produto uma bizarria sobrenatural que era atraente; quando abria a edição vinil, havia ali um brilho espacial. Mas a idolatria infantil foi substituída mais tarde pela chacota adolescente e pelo desprezo adulto.

Porém, nunca nos esqueçamos que foi o talento quase sobre-humano que o colocou num local privilegiado do passeio da fama de Hollywood. Michael Jackson era de outro mundo. Agora, ficámos a saber que de lá já não sai de vez. Descobriu a paz, ao menos? Desconfia-se que sim.