terça-feira, 31 de março de 2009

NO MEU CINEMA: “GRAN TORINO” de CLINT EASTWOOD


Ainda estou a digerir a desilusão do último filme de Clint Eastwood. Do mais previsível que alguma vez vi, personagens incluídas.

sábado, 28 de março de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
3º Rolling Stones - Gimme Shelter
Documentário de Albert and David Maysles sobre o trágico Festival de Altamont, em 1969.



PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

quarta-feira, 25 de março de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: PHOSPHORESCENT, «SONGS TO WILLIE»


O movimento de embelezamento do country, na sua forma alternativa, continua por parte de uma vaga nascida na década de 70, a que pertence também Phosphorescent, o projecto individual de Matthew Houck.
Songs to Willie é uma declaração deliciosa de amor de Houck à música de Willie Nelson, com 11 versões de canções popularizadas por este mestre. Mas a delicadeza da obra que merece esta honraria está aos modos desse génio dos nossos tempos chamado Will Oldham (ou, se preferirem, Bonnie Prince Billy). Um portento. (Dead Oceans, 2009)
PS - Quando me preparava para escrever esta excitação, descobri um dado inevitável dos tempos que correm: sim, Matthew Houck, nascido em Athens (a cidade de Georgia de onde vêm os R.E.M. e os B-52’s) também vive em Brooklyn (Nova Iorque), cada vez mais a Greenwich Village do século XXI. Não creio em bruxas, mas lá que elas existem, existem.

sábado, 21 de março de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
4º David Bowie - Best of Bowie
Compilação, de 2002, que reúne todos os videoclips de David Bowie.



PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

quinta-feira, 19 de março de 2009

BRASIL FATAL: CÁSSIA ELLER (1962-2001)


A INFLUÊNCIA

Cássia Eller foi um dos grandes ícones femininos do rock brasileiro. Graças à sua voz grave poderosa, fez a diferença como uma intérprete que deu nova vida a composições de ídolos brasileiros como Cazuza (sobretudo Cazuza), Caetano Veloso, Mutantes, Renato Russo (da Legião Urbana) e Chico Buarque. Mas também de ícones do rock mundial como os Beatles ou Jimi Hendrix.

Carioca (do Rio de Janeiro, portanto), mas de residência itinerante por vários pontos do Brasil ao longo da sua vida, foi na capital Brasília que se revelou, numa carreira musical que, de 1990 (quando o álbum de estreia, homónimo, foi lançado) até ao auge, em 2001, progrediu sempre em crescendo.

Tocadora de violão (baixista pontual), Cássia Eller era uma rocker de inspiração blues que fazia algumas tangentes ao MPB (Música Popular Brasileira). A sua interpretação mais conhecida continua a ser ‘Malandragem’, composta pela dupla Cazuza e Roberto Frejat (que fez maravilhas nos Barão Vermelho), que Ângela Ro Ro recusou antes interpretar. ‘O Segundo Sol’ de Nando Reis (que brilhou nos Titãs) foi outro êxito que se deu bem com o airplay radiofónico e, sobretudo, com o seu público. Outra das interpretação mais populares era ‘Por Enquanto’ (composição de Renato Russo) - na realidade, foi esse o seu primeiro grande êxito.

Em vida, lançou cinco álbuns de estúdio e três ao vivo. “Cássia Eller Acústico”, gravado para a MTV Brasil, foi o álbum mais vendido de sempre, que teve como arranjador Nando Reis.

Eller esteve em grande no Rock in Rio, em 2001, com um enorme à-vontade (e até exibiu os seus seios num acto irreverente à rock & roll mas nunca sensacionalista), numa actuação vespertina que teve como consagração a sua famosa versão de ‘Smells Like Teen Spirit’ dos Nirvana (que o antigo baterista Dave Grohl elogiava).

Mulher brava - chegou a ser assistente de pedreiro - e lésbica assumida, familiarizou os seus admiradores com o seu ar masculino, braços tatuados e cabelo curto (às vezes rapado, às vezes até com crista punk). Está imortalizada como uma das maiores cantoras do Brasil.

A MORTE

A sua faceta mais negra incluía grandes problemas com álcool e drogas. Em 2000, Cássia Eller concluiu uma cura de desintoxicação que durou dois anos. Segundo os relatos da cantora, sentia-se limpa de drogas em 2001.

Mas nesse ano, surge outro problema que o seu sucesso acarretaria: o excesso de trabalho. O ano de 2001, em que actuou no Rock in Rio, estava a ser particularmente desgastante para a cantora. Só nos últimos 7 meses Cássia Eller tinha dado 92 concertos. No Natal que passa com a família em Brasília, Cássia Eller dá sinais de um estado emocional alterado. No dia seguinte, num ataque intempestivo, parte uma porta de vidro que lhe provoca ferimentos na testa (com hematoma) e nas coxas, que permanecem visíveis quando se desloca ao Rio de Janeiro para preparar o concerto do Reveillon naquela cidade.

No dia 28, o ensaio com a sua banda decorre num clima de “cortar à faca”, por causa do mau humor da cantora. Quando a percussionista Elaine Moreira (Lan Lan) a leva a casa de carro, percebe que a cantora não está bem. Mas Cássia Eller prefere passar a noite sozinha no seu apartamento.

Na manhã de 29 de Dezembro, Cássia Eller sente-se mal, queixando-se de enjoos. Telefona a Lan Lan de uma cabine telefónica. A percussionista vem em seu socorro, com mais duas amigas comuns. Segue-se um passeio mas Cássia Eller aumentou as suas queixas, chorando de dores. Chegou a vomitar. Deslocam-se ao hospital.

Por falta de vaga no Centro de Tratamento Intensivo, é internada às 13h00 na clínica Santa Maria, no Rio de Janeiro. Assustada com o número de pessoas que se aglomeravam na clínica, Cássia Eller desesperou e fugiu para o carro minutos antes. O director da clínica, Gedalias Heringer Filho, informa depois a imprensa que Cássia Eller chegou ao centro de saúde “com quadro de desorientação e agitação, tendo evoluído rapidamente para depressão respiratória e parada cardiorrespiratória” (citando o Folha de S. Paulo).

Cássia Eller sofre três paragens cardíacas na clínica. Tenta-se reanimar o corpo. Mas às 18 horas, o seu estado de saúde agrava-se consideravelmente. Às 19h05, é declarado o óbito.

O relatório médico apontou a overdose de drogas como causa da morte. Mas a origem da morte que ganhou mais consistência foi a de stress. As causas do falecimento levantaram tantas suspeitas quanto a assistência médica (desconfiou-se de discriminação no atendimento à cantora durante todo o período de aflição que antecedeu o internamento).

Cássia Eller deixou órfão um filho de oito anos, que ficou aos cuidados da sua companheira amorosa Maria Eugénia Vieira. Chicão, como a mãe Cássia lhe tratava, já tinha perdido o pai,o baixista Otávio Fialho, num acidente de viação, dias antes do seu nascimento.

Postumamente, foi editado o álbum “Dez de Dezembro”. Cássia Eller tinha 39 anos.

Último texto do especial Brasil Fatal, publicado no Cotonete.

terça-feira, 17 de março de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
5º Miles Davis Quintet - European Tour 1967
Registo filmado de duas actuações do trompetista na Suécia e Alemanha.



PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

sábado, 14 de março de 2009

BRASIL FATAL: CHICO SCIENCE (1966-1997)


A INFLUÊNCIA

Durante a sua curta exposição pública, Chico Science conseguiu ser o músico brasileiro mais revolucionário dos anos 90. Com o apoio da sua banda, a Nação Zumbi, Chico Science foi a maior lenda de um género novo: o mangue beat, um híbrido muito brasileiro e contemporâneo dos ritmos nordestinos do coco de roda e do maracatu com estilos mais globalizados como o rock, o funk, a electrónica e o hip hop.

Baptizado como Francisco de Assis França, ficou com o nome de Chico Science por causa de alcunhas locais como “cientista dos ritmos” - mimo dos seus companheiros de rua da sua cidade-natal de Olinda, do estado nordestino do Pernambuco.

Chico Science tinha mente politizada de contra-poder e curiosidade de historiador. Era o antropólogo brasileiro no músico, o musicólogo no artista. Defensor da cultura de miscigenação e da emancipação dos negros no Brasil, Chico Science passou muito bem da teoria à prática dando voz de rapper àquele choque de percussão pernambucana do maracatu com o groove funk de guitarras ametaladas. Como se Gilberto Gil, um grupo folclórico de maracatu e os Red Hot Chili Peppers de repente se cruzassem na cabeça de Chico Science. Eis o mangue beat no seu esplendor, como se fosse um derivado mulato e cosmopolita do afrobeat mitificado por Fela Kuti.

Em vida, Chico Science & Nação Zumbi lançaram dois álbuns "Da Lama ao Caos" e o mais electrónico "Afrociberdelia" que, além dos efeitos internos no Brasil, garantiram uma projecção internacional interessante. Science e a sua banda tiveram ainda tempo para algumas digressões internacionais: passaram pela Europa, e actuaram num Central Park bem composto, em Nova Iorque.

Na memória, fica a imagem de um homem enérgico em palco, com aquele ar folião de roupas carnavalescas, óculos escuros e panamá, que mexeu com a música brasileira.

A MORTE

Em 1997, Chico Science estava em grande. A ideia seguinte que tinha em mente era a de tentar buscar referências eruditas. Mas, no dia 2 de Fevereiro, quando conduzia o seu carro na estrada que ligava as cidades do Recife com Olinda, embate num poste do lado oposto ao do volante. Chico Science, que ia sozinho na viatura, morre no acidente.

O Brasil musical mais atento às vanguardas chorou a sua morte. O choque ultrapassou fronteiras: em Portugal, o radialista Henrique Amaro (da estação pública Antena 3), mais atento às novas tendências da música brasileira e admirador de Chico Science, não se cansou de destacar a tragédia desta perca. Ninguém podia estar preparado para uma obra tão abruptamente interrompida, com tantas ideias que ficaram por dar.
Dez anos depois do acidente, a família recebeu da Fiat uma indemnização, numa soma record nacional para situações de danos físicos em automóveis, num valor que não é público, pelo facto do cinto do Uno Mille que Chico Science conduzia ter rompido no momento do embate. Metade do dinheiro foi para a filha de 16 anos (em 2007), Tainã, outra metade para os pais.

A Nação Zumbi continuou e Jorge dü Peixe assumiu as vocalizações principais. O grupo chegou a actuar em Portugal, num festival na Praça Sony, em Lisboa, no ano de 2000.

Em homenagem a Chico Science, foi instalada uma escultura de um caranguejo (símbolo do riquíssimo ecossistema tropical dos manguezais, em Pernambuco) nas margens do rio da cidade de Recife, que ficaria conhecida como Manguetown.

Texto que faz parte do especial Brasil Fatal, publicado no Cotonete.

quinta-feira, 12 de março de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
6º Depeche Mode – 101
Documentário de DA Pennebaker sobre a grande digressão americana dos Depeche Mode em 1988.


PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

terça-feira, 10 de março de 2009

BRASIL FATAL: RENATO RUSSO (1960-1996)


A INFLUÊNCIA

Renato Russo é, indiscutivelmente, um dos maiores ícones da história do rock brasileiro. Liderou carismaticamente os Legião Urbana (entre 1982 e 1996), que se tornaram uma das grandes bandas da sua geração, a par dos Titãs, dos Paralamas do Sucesso e dos Barão Vermelho.

Os Legião Urbana, sediados na capital Brasília, expunham um som enigmático e mais anglófilo, muito marcado pelo cinzentismo das bandas de Manchester, como os Joy Division e os Smiths. Mas o selo do grupo era brasileiro, graças ao enquadramento da mensagem politico-social corrosiva de Renato Russo, que não poupava os tabus do seu país.

Russo era inigualável e único em palco, com danças bizarras, ondulação dos braços frequente e uma atitude espontânea e impulsiva. Apesar da timidez, tinha uma empatia com o público arrebatadora e genuína.
A sua aparição pública coincide com o nascimento da democracia no Brasil - 1985 -, e o primeiro álbum, de título homónimo, tem logo grande impacto, sobretudo junto da crítica e dos músicos. Foram o direito ao contraditório que a ditadura militar anterior precisava de ouvir antes, e, através das letras geniais de Renato Russo, foram porta-vozes contra a corrupção que o público aclamou. A adesão popular à banda foi transitando de fenómeno de culto a ídolos de massas, ou para aquilo que se convencionou como Religião Urbana (termo que Russo reprovava).

Todos os álbuns seguintes foram êxitos de vendas. “Dois” (de 1986) levantou muito a fasquia, mas “As Quatro Estações” (de 1989) foi o álbum que mais vendeu e expôs o grupo à rádio. A discografia dos anos 90 é ainda mais melancólica, e para os fãs mais acérrimos, “V” (de 1991) é defendido como a obra-prima do grupo.
Houve outros dados importantes. Alguns concertos em Brasília são marcados pela violência, com alguns motins de alguma gravidade. Uma jovem chega a morrer num desses distúrbios, num concerto em 1986, tocado para 50 mil pessoas - a tragédia revoltou profundamente Renato Russo.

A bissexualidade do cantor foi assumida publicamente desde 1988. E algumas canções, como ‘Meninos e Meninas’, deixam isso bem explícito.

O reportório de Renato Russo está espalhado por sete álbuns de originais dos Legião Urbana, que lhes garantiram mais de vinte milhões cópias vendidas em todo o Brasil, e por vários álbuns a solo. O número de hinos que qualquer brasileiro com menos de 50 anos reconhece, é impressionante: ‘Faroeste Caboclo’, ‘Eduardo e Mônica’, ‘Perfeição’, ‘Índios’, e ‘Será’, entre muitos, muitos outros.

A MORTE

Em 1989, Renato Russo aceita internar-se para recuperar o seu problema de alcoolismo. E é nessa estada de hospital que recebe a notícia terrível de que é seropositivo.

Tal facto, além do seu grave problema de toxicodependência, contribui para uma década de 90 com novas composições mais pessimistas e sombrias. Seguem-se depressões e tendências para o suicídio.

Os últimos três anos de vida de Renato Russo são marcados por uma produção estonteante, dividida entra a carreira a solo e a Legião Urbana: uma vontade nova de querer viver o máximo possível.

"A Tempestade ou O Livro dos Dias", dos Legião Urbana, é gravado no primeiro semestre de 1996 com a disposição de um álbum de despedida. Renato Russo faz as gravações num só take, numa fase já muito anti-social e amargurada. Em Julho, o pai, Renato Manfredini, funcionário do Banco do Brasil, muda-se para o apartamento do filho, no bairro de Ipanema (Rio de Janeiro), para acompanhar o debilitado estado de saúde de Russo.

Os músicos dos Legião Urbana, sem saberem muito bem o que se estava a passar, vão perguntando por Renato, obtendo respostas confusas. O guitarrista Dado Villa-Lobos e outro amigo comum decidem então ir a casa do cantor. E vêem que ele não está nada bem.

Renato Russo morre no dia 11 de Outubro de 1996, 21 dias depois da publicação do álbum dos Legião Urbana, "A Tempestade". Os músicos restantes do grupo, Dado e o baterista Marcelo Bonfá, anunciam à imprensa o fim do grupo. No ano seguinte, aproveitando as sobras da grande quantidade de músicas que Renato Russo compôs nos últimos anos, é editado o álbum póstumo dos Legião Urbana, ‘Uma Outra Estação’. Renato Russo tinha 36 anos de idade.

Texto que integra o especial Brasil Fatal, publicado no Cotonete.

segunda-feira, 9 de março de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
7º Vários - Monterey Pop
Documentário de DA Pennebaker sobre o festival Monterey Pop, em 1967.


PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

sábado, 7 de março de 2009

BASKERY, «FALL AMONG THIEVES»


A Suécia é uma nação apátrida no melhor dos sentidos. Exporta bandas que passam por brit-pop ou por hard-rock americanizado, ou seja o que for, com um resultado genuíno que ignora a origem viking. Que o digam as meninas Baskery, autoras de um bluegrass com perfume de mulher que lembra muito a das canadianas Be Good Tanyas, num corpo folk americaníssimo mas com passaporte sueco.
Banjos e harmónicas também podem conviver no mundo de batons e bonecas, é o que nos diz a bela colheita de 12 canções, Fall Among Thieves, destas três irmãs escandinavas. Trata-se de uma das melhores estreias dos últimos 12 meses. (Glitterhouse, 2008)

sexta-feira, 6 de março de 2009

BRASIL FATAL: CAZUZA (1958-1990)


A INFLUÊNCIA
“Melhor 10 anos a mil à hora do que mil anos a 10 à hora”, Cazuza disse-o. E foi assim que o cantor viveu.
Cazuza, pelo trabalho nos Barão Vermelho e a solo, foi tido como “o maior poeta da sua geração”... Uma geração de admiradores do rock & roll anglo-saxónico e do tropicalismo que, no início dos anos 80, tinha vontade de mudar as coisas num Brasil amarrado a uma ditadura militar.

Enquanto vocalista e letrista, formou com o guitarrista e amigo Roberto Frejat uma das duplas mais históricas da música do país, núcleo central daquele foi para muitos o combo mais perfeito do rock brasileiro, com o teclista Maurício Barros, o baixista Dé e o baterista Guto Goffi nas fileiras da primeira formação dos Barão Vermelho (que durou até 1985).

Em 1981, quando os Barão Vermelho estavam a realizar os primeiros ensaios, faltava ainda um vocalista. Roberto Frejat e companhia escolheram Léo Jaime para o posto que, depois de ver Cazuza a actuar num grupo teatral, preteriu a proposta. Sugeriu Cazuza, claro. E tinha toda a razão.

Quando os Barão Vermelho viram em Cazuza não só um fantástico performer, mas também um sobredotado letrista, não hesitaram. A banda deixava imediatamente o formato das covers, e passava a tocar composições originais. E iniciava-se uma das mais fascinantes aventuras no rock brasileiro, com Cazuza e Frejat ao leme do Barão Vermelho.

Roberto Frejat e restantes músicos tinham a estrutura, e o animal de palco efusivo Cazuza possuía a fúria de viver típica do seu grande ídolo James Dean. A combinação de blues com hard-rock dos Barão Vermelho era singularizada pelo espírito solto e optimista de Cazuza. Caetano Veloso, sempre com o radar ligado, não calou a sua revolta ao ver a qualidade de uma banda como os Barão Vermelho a ser ostracizada pelas rádios. Mas as coisas mudariam...

No dia 15 de Janeiro de 1985, quando o sol da democracia iluminava de alegria o Brasil com a eleição de Tancredo Neves, os Barão Vermelho e Cazuza tiveram uma das suas maiores jornadas de glória no Rock in Rio quando se tornaram na primeira banda nacional a “pegar de caras” um público metaleiro com outros humores.

Pouco tempo depois, Cazuza deixa os Barão Vermelho com um legado de três álbuns de referência - “Barão Vermelho” (de 1982), “Barão Vermelho 2” (de 1983) e “Maior Abandonado” (de 1984) - e um reportório invejável composto por hinos como ‘Codinome Beija Flor’, ‘Pro Dia Nascer Feliz’ ou ‘Bete Balanço’. A carreira a solo corre-lhe ainda melhor, sobretudo em termos de reconhecimento do público e de vendas, através dos álbuns “Exagerado” (de 1986) e, sobretudo, “Independência” (de 1988). Também para a memória do público fica o dueto com Gal Costa em ‘Brasil’ (tema principal da telenovela” Vale Tudo”, também exibido em Portugal no final dos anos 80, no horário de maior audiência, que no genérico é só interpretado por Gal).

A MORTE

Eram muito grandes as semelhanças faciais de Cazuza com o actor de novelas brasileiro Lauro Corona (que pudémos ver em Portugal, em meados dos anos 80, em telenovelas como “Corpo a Corpo”, no horário nobre de jantar, ou “Vereda Tropical”, à hora de almoço), que, curiosamente, morreu com a mesma idade, 32 anos, com a mesma causa de morte, sida.

Mas o ar saudável do músico tinha os anos contados desde os dias em que, em 1985, teve uma febre alta. O diagnóstico decretava uma infecção bacteriana. Cazuza não perdeu tempo e pediu para fazer o então impreciso teste do HIV que deu negativo. Mas três anos depois deu positivo. Assim que soube, Cazuza convocou uma conferência de imprensa a dar a notícia, iniciando um bravo combate contra o preconceito da doença no Brasil que se tornou exemplar.

Aquando do sucesso do período de “Independência”, em 1988-89, Cazuza não tem pudores em exibir o seu rosto e corpo magros e transfigurados. A doença estava espelhada na cara, a decadência física era evidente e Cazuza já não conseguia ser o vivaço de palco de outrora.

A degradação física de Cazuza continua, e já 1989 ia avançado quando o cantor faz alguma aparições públicas de cadeira de rodas e de lenço na cabeça. Mesmo assim, ao seu estilo, mantém a sua elevada capacidade de trabalho e grava com a voz muito debilitada o álbum “Burguesia”, conjunto de canções que fazem um testemunho impressionante e revoltado sobre “o trem da morte que se aproxima” (citando a canção ‘Cobaia de Deus’).

Cazuza subumbe à doença no dia 7 de Julho de 1990, no apartamento dos pais, no Rio de Janeiro, onde vivia há três meses desde que tinha regressado de mais um tratamento nos Estados Unidos. Eram 7 da manhã, estava o cantor ainda a dormir. O pai, o produtor musical João Araújo, confirma à imprensa, no prédio de sua casa, a notícia. A família, amigos e muitos fãs imediatamente acorrem à capela onde está o corpo.

Os ex-companheiros dos Barão Vermelho carregam o caixão no dia de enterro. Cazuza é sepultado no Cemitério João Batista, no Rio de Janeiro, muito próximo de outras lendas musicais como Carmen Miranda e Ary Barroso.
Texto que faz parte do especial Brasil Fatal, publicado no Cotonete.

terça-feira, 3 de março de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
8º Talking Heads - Stop Making Sense
Filme-concerto de Jonathan Demme sobre os Talking Heads em 1983.




PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

domingo, 1 de março de 2009

U2 – NO LINE ON THE HORIZON


O início eufórico de No Line on the Horizon origina um prognóstico falso sobre o álbum. O primeiro vaticínio é (erradamente) tão optimista quanto o rock clássico dos U2 que brilha nas primeiras quatro faixas (das onze) do novo longo, o 12º da banda.

A entrada é forte e os U2 mostram-nos logo o seu melhor no tema-título que abre o álbum: odisseia rock soalheira, de decoração ambiental trabalhada, que nada deve a semelhantes como 'Where The Streets Have No Name' (a faixa de abertura do bem sucedido Joshua Tree).

As faixas seguintes têm também tudo para cair no goto da numerosa legião de fãs. 'Magnificent', 'Moment of Surrender' e, sobretudo, 'Unknown Caller' consagram o melhor que os U2 têm: o heróico Bono ao leme de coros efusivos, o tricot eléctrico elaborado por The Edge, a energia juvenil de reguila na bateria de Larry Mullen Jr e a sábia discrição de Adam Clayton no baixo. A química de quarteto está efervescente nessas três canções.

'Magnificent', 'Moment of Surrender' e 'Unknown Caller' confirmam os rumores que apontavam No Line on the Horizon como uma aproximação ao álbum Achtung Baby. Na verdade, "No Line on the Horizon" concentra esforços numa das mais célebres canções da obra-prima de 1991: 'Misterious Ways' que foi, na altura, o ponto de encontro entre a linha tradicional do grupo e a novidade tecnológica. Este novo álbum é um conjunto de variações de 'Misterious Ways' que recupera os aromas arábicos do tema, ora em tons mais aguerridos, ora em marcha mais suave. O arsenal tecnológico de The Edge, os gritos de Bono no deserto e as canções soalheiras moldam, com poucas excepções, No Line on the Horizon.


No fundo, No Line on the Horizon confirma aquela que tem sido a disposição do grupo ao longo da década: o presente às ordens do passado e não à procura de um novo futuro. Só muda o álbum recordado: este último é um filtro mais acomodado de Achtung Baby.

Outro dado revelado pelas faixas subsequentes é o deste não ser ainda o álbum de renascimento de forma dos U2 à antiga. Quanto muito, os U2 saem do coma criativo profundo e agora dão sinais de recuperação. As primeiras quatro músicas foram só falso alarme de algo bem melhor.

O que se seguem são bonecos em cera desgarrados a imitar os U2 gloriosos. Por vezes, chegam a soar mais aos seus descendentes - como os Killers ou os Coldplay - do que à excelência dos próprios. 'Fez - Being Born', a derivação mais comprida de 'Misterious Ways', é das uma viagens sensoriais mais exigentes do disco, ao alcance banal, porém, das bandas citadas que influenciaram.

Noutros exercícios, 'White as Know' é balada contemplativa cinematográfica, de impacto bem mais modesto que um tema-primo seu como 'All I Want Is You' (a canção de encerramento de Rattle & Hum). E a faixa última 'Cedars of Lebanon' podia estar no álbum mais meditativo que os U2 prometem para o final do ano, lembrando a canção os ensaios abstractos dos Passengers (o quinteto que unia Brian Eno aos U2).

Ficou por realizar o sonho dos U2 serem produzidos por Rick Rubin (lá voltou o conselho de mesa do costume: Brian Eno, Daniel Lanois e Steve Lillywhite). Mas a banda de Bono não estava para adiar mais a experiência de um rock mais pesado.

A faceta hard-rock aparece no disco com alguma margem. Mas o galope suado retira perfume aos U2. A forma mais pesada é nos U2 um exotismo mas não uma especialidade. E talvez por isso, Get on Your Boots é o menos carismático 1º single de sempre de um álbum de U2. 'Stand Up Comedy' não passa de um sucedâneo do arrojado 'The Fly' (a primeira canção que o mundo conheceu de Achtung Baby). Só quando conseguem domesticar o cavalo selvagem em Breathe é que os U2 brilham a grande altura, com refrões épicos e um violoncelo mandão a aguentar o passo veloz da canção - esse é o melhor momento da segunda metade do álbum.

Mas, ultrapassados alguns empates recentes, este álbum soa a vitória de margem mínima. (Universal, 2009)

Artigo publicado no Cotonete.