terça-feira, 25 de novembro de 2008

CROMOS DOS ANOS 80: OITENTISTAS FORÇADOS


Para a malta da velha guarda, os anos 80 deram para tudo. Houve quem andasse perdido, houve quem lhe saísse a lotaria.
Bob Dylan faz parte do grupo dos amaldiçoados e é um exemplo crítico de inadaptação à década de consagração dos yuppies e de uma forma mais visual de vender música. E a imagem de Dylan, que não era a de um homem novo, não o beneficiava. Numa era de sorrisos simpáticos, o rosto sisudo de Bob Dylan ficava muito mal no plano. Ficou de lado.

Os Rolling Stones também sofreram os efeitos adiantados da crise da meia-idade. Os atritos e dilemas existenciais do grupo, que colocaram em causa a sua própria continuidade, não afastaram Mick Jagger do circo mediático, que continuou os seus pulos a solo, averbando duetos com tudo o que fosse gente famosa.
Neil Young é outro caso de inadaptação. O seu som country-rock mais físico soava datado perante o mais em voga e mais maquinal synth-pop. A emenda saiu pior que o soneto quando o guitarrista forçou a sua adaptação àqueles estranhos anos, robotizandoo o seu rock e decorando-o com enfeites electrónicos à Kraftwerk no álbum Trans (1982). O resultado foi pavoroso.

Mas dentro do campeonato do ridículo, houve reformulações de imagem que tiveram sucesso. Mark Knofler, dos Dire Straits (revelados na corrente da new wave), colocou uma fita de tenista na cabeça que não perturbou a rendição mundial ao seu álbum-charneira Brothers in Arms.
Tina Turner largou as garras do marido Ike, deixou para trás o som soul que popularizou nos anos 60 e 70, lançou-se à pop mainstream e revolucionou o seu penteado (agora penteadamente despenteado). Descobriu uma nova juventude depois dos quarenta anos: passou a usar mini-saia e a encher estádios. Entrou na elite dos milionários e foi considerada a avó mais sexy do mundo. Definitivamente, deu-se bem com os anos 80.

David Bowie usou do seu talento de camaleão e voltou a ajeitar-se à mudança dos tempos, integrando-se bem num período da pop mais pragmática e orelhuda, através uma colheita generosa de êxitos (como "Let’s Dance", "Blue Jean" ou "Absolute Beginners"). E, nota importante, os anos 80 não lhe tiraram o estilo: continuou a saber escolher cabeleireiros, e ao contrário da maioria dos casos a sua fotogenia não ficou datada aos tempos de então.
Freddie Mercury, o carismático vocalista dos Queen, também mudou de look radicalmente assim que as garrafas de champanhe do reveillon anunciaram a entrada nos anos 80. Deixou os cabelos compridos e o ar de glam-rocker, e assumiu um look mais masculino de bigodinho e um guarda-roupa desportivo (que quase parecia um fato de treino) que lembrava o do nosso Carlos Paião, onde nem sequer faltavam os ténis.

Menos intencional foi a imagem patriótica com que o mundo ficou do Bruce Springsteen que vociferava em "Born in the U.S.A." e a associação do mesmo à bandeira norte-americana. Foi um acaso, a letra era bem mais crítica e social.

Outro acidente feliz de percurso aconteceu com os experientes músicos Toto que fazem uma transferência imediata do seu nicho de rock progressivo para a exposição do grande público pop à custa de uma só canção: a célebre "Africa".

Outra transição célere do rock progressivo para a esfera do rock de massas aconteceu com os Yes e o hit "Owner Of A Lonely Heart" que provocou dores de alma nos fãs mais fundamentalistas do grupo que abominaram o ar de “malha” à anos 80 do tema.
A partir do submundo da folk alternativa, também houve umas quantas convocatórias inesperadas para a pop-rock mainstream, como os Waterboys (e o seu êxito "The Whole of the Moon") e os Dexys Midnight Runners (e esse portal para o sucesso chamado "Come On Eileen") a disputarem a ribalta com bandas mais talhadas para o assunto.

Nem mesmo a apelidada melhor banda rock da década, os U2, escapou a alguns excessos típicos. Bono, por exemplo, também foi contaminado pela epidemia do corte de cabelo à Paulo Futre quando corriam os dias do Live Aid (em 1985), poucos anos depois depois da imagem mais guerreira e discreta com que se mostraram ao mundo.
Texto publicado no Cotonete
Imagens YouTube de cima para baixo: Mick Jagger – “Just Another Night”; Dire Straits – “So Far Away”; David Bowie – “Blue Jean”; Bruce Springsteen & The E-Street Band – “Born in the USA”; Yes – Owner of a Lonely Heart; U2 – “Bad”.
Imagens fixas de cima para baixo: Bob Dylan; capa do álbum Trans de Neil Young; Tina Turner; Queen; capa de Africa dos Toto; Dexys Midnight Runners.

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