quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

MELHORES ÁLBUNS INTERNACIONAIS DE 2009


1º Bonnie Prince Billy – Beware


2º Bruce Springsteen – Working on a Dream

3º Phosphorecent - To Willie

4º The XX – XX

5º Yeah Yeah Yeahs – It’s Blitz


6º Iggy Pop – Préliminaires

7º Speech Debelle - Speech Therapy

8º Bob Dylan - Together Through Life

9º Fever Ray – Fever Ray

10º Sunset Rubdown – Dragonslayer


11º Wild Beasts – Two Dancers

12º Dan Auerbach - Keep It Hid

13º Manic Street Preachers - Journal for Plague Lovers

14º Alice in Chains - Black Gives Way to Blue

15º Fire on Fire - The Orchard


16º Sonic Youth - The Eternal

17º Seun Kuti & Egypt 80 - Many Things

18º Arbouretum – Song of the Pearl

19º Forest Fire - Survival

20º Jarvis Cocker - Further Complications


21º Clues - Clues

22º Low Anthem – Oh My God, Charlie Darwin

23º Girls - Album

24º Oumou Sangare - Seya

25º Amazing Baby - Rewild


26º Vieux Farka Touré - Fondo

27º Edward Sharpe and the Magnetic Zeros - Up from Below

28º Grizzly Bear - Veckatimest

29º Amadou & Mariam - Welcome to Mali

30º The Felice Brothers – Yonder Is the Clock

terça-feira, 17 de novembro de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: EDWARD SHARPE & THE MAGNETIC ZEROS, «UP FROM BELOW»


O seu álbum de estreia "Up from Below" é um interessante rebuliço. São exultantes como os Arcade Fire, mas com uma desinibição bastante mais caricatural: uma descontração freak-hippie de espécies de bobos da corte... a banda de Win Butler não vai tão longe.

O pontual toque cigano que se sente no disco faz lembrar os Devotschka. Têm o lado messiânico dos Polyphonic Spree. E estão imbuídos do espírito folclórico e anárquico dos Tilly & the Wall. As canções são boas, mas é o ânimo especial do grupo que as empurra para uma atracção mais contagiante. (Vagrant, 2009)



Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

domingo, 15 de novembro de 2009

EXCITAÇÃO EM DELAY: FEVER RAY, «FEVER RAY»


O álbum de estreia a solo da sueca Karin Dreijer Andersson (da dupla The Knife), sob o nome Fever Ray, é o outro lado do espelho de Vespertine de Björk, mas bem mais sombrio.
Mira-se o formato digital arty de Ryuichi Sakamoto e o maravilhoso mundo infantil de Björk, tal e qual o álbum de 2001 da estrela islandesa. Mas se Vespertine é o conto de fadas, Fever Ray é o seu conto de bruxas. O álbum da mulher dos Knife é pop electrónica de ninfa envolvida num mundo aterrorizante, de notas graves e de camadas fantasmagóricas de vozes distorcidamente masculinas e assustadoras.
Fever Ray é das obras mais misteriosas do ano e, quiçá, uma das melhores. Nunca é tarde para se falar de um álbum deste calibre. (Rabid, 2009)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

FICÁMOS SEM RADAR, ANTÓNIO

Obrigado, Mestre. E manda um abraço ao Peel que também temos saudades dele.
António Sérgio (1950-2009), divulgador (Rádio Renascença, Rádio Comercial, XFM, Radar...)

sábado, 24 de outubro de 2009

EXCITAÇÃO EM DELAY: YEAH YEAH YEAHS, «IT’S BLITZ»

O último álbum dos amotinados Yeah Yeah Yeahs é um dos grandes resistentes deste ano do meu leitor mp3. No momento de edição do disco, há já uns bons meses, não se proporcionou falar do disco. Faço-o agora, se calhar com outra clarividência (maior, suponho). A verdade é que, qual certificado de grande disco, It’s Blitz não parou de crescer aos meus ouvidos.
O terceiro álbum dos Yeah Yeah Yeahs é a grande metamorfose do ano: uma mutação triunfal de um corpo minimalmente punk para uma nova sofisticação synth-pop. O cirurgião chama-se David Sitek, o produtor (e distinto membro dos TV on the Radio) que conseguiu o milagre de fazer da actriz Scarlett Johansson a autora de um magnífico álbum de versões de Tom Waits (Anywhere I Lay My Head).
A banda de Karen O consegue em It’s Blitz o jogo de cintura de agradar a gregos e a troianos: sem apagar a sua chama rock & roll, descobre melodias pop poderosas e profundas, de potencialidades cinéfilas óbvias. Foram longe, mais do que se pensava. (Interscope, 2009)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: SPEECH DEBELLE, «SPEECH THERAPY»

Razão a quem a tem: ao júri do Mercury Prize. O álbum da Speech Debelle é, de facto, uma delícia - e um vício saudável que cresce há semanas. (Big Dada, 2009)

domingo, 4 de outubro de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: WILD BEASTS, «TWO DANCERS»


O mais próximo da transcendência mágica de Jeff Buckley que uma banda pop-rock britânica terá conseguido chama-se Wild Beasts, o feito recente é deles. O segundo álbum deste quarteto tem consistência para o rótulo de «uma das revelações de 2009». (Domino, 2009)

sábado, 26 de setembro de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: THE XX, «XX»


Os jovens XX obedecem ao mesmo minimalismo simples dos inesquecíveis Young Marble Giants. A guitarra é fanhosa e a caixa de ritmos apoia-se em sequências básicas. As distracções oferecidas pelas estrutura instrumental de aprendiz dos XX são também reduzidas ao mínimo. O foco é, deliberadamente, a canção, e grandes virtuosismos técnicos são proibidos.

Mas desenganem-se aqueles que esperam dos XX o comportamento de meros bons alunos da escola Young Marble Giants. Há ali uma indisciplina face aos mestres bastante recomendável.

XX não é só um tratado por si mesmo. É também um tratado de paz improvável entre o indie pop mais doméstico e o r&b dançarino e festivo. (Rough Trade, 2009)

Pode ler artigo desenvolvido no Cotonete.

domingo, 13 de setembro de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: SUNSET RUBDOWN, «DRAGONSLAYER»

Se os Interpol fossem bons, seriam como os Sunset Rubdown. As limitadas contas matemáticas dos primeiros são demasiado pequenas quando comparadas com a largueza da imprevisibilidade dos segundos. Esteticamente, são dois projectos mais vizinhos que amigos. O duelo entre matemática e arte mal chega a começar.
Ao leme dos Sunset Rubdown está o multi-instrumentista Spencer Krug, uma das personalidades mais activas da cena de Montreal - também visto nos mais que recomendáveis Wolf Parade, mas a colecção de projectos paralelos de Krug não se fica por aqui...
O quarto álbum deste colectivo canadiano, Dragonslayer, é uma espécie de ilha autónoma e independentista, culturalmente descendente dos Triffids e dos New Pornographers. Cada canção é de uma generosidade gigante em argumentos, e quando já ficaríamos contentes pela metade, não acreditamos que há ainda outra: um fôlego criativo de extensão hercúlea com espaço para um rematezinho mais aveludado que ficou por dar nos Joy Division.
Entretanto, a interpretação vocal de Spencer Krug já não cabe no sector da música, está ali numa dimensão teatral dramática.
Se tiver urgência em encontrar génio no estafado mundo do pop-rock, pare neste disco depressa. (Jagjaguwar, 2009)



domingo, 6 de setembro de 2009

OS 100 MELHORES ÁLBUNS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.
90º Chemical Brothers – Exit Planet Dust (Astralwerks, 1995)
O álbum certo feito no momento certo. Parte da revolução do big beat passou por esta rodela de electrónica com tanto rock & roll no nervo.

3 músicas a ouvir: “Life Is Sweet”, “Leave Home”, “In Dust We Trust”.

89º Laurie Anderson – Bright Red (1994)
O ponto perfeito entre ritmo e filosofia, corpo e cérebro, espectáculo e intelecto. Mais do que um álbum, Bright Red é um livro sem páginas.

3 músicas a ouvir: "Beautiful Pea Green Boat", "Speak My Language", "World Without End".

PS – Lista pessoal elaborada em Abril e Maio de 2009.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

NO MEU CINEMA: «SACANAS SEM LEI», de QUENTIN TARANTINO


Um filme da II Guerra Mundial com Spaghetti, por favor! Servido com aquela pitada de humor do costume.
Há mais grandes momentos do que a constatação deste ser um grande filme. E talvez não existam aqueles golpes de asa de filmes de Tarantino (os primeiros) como Cães Danados e Pulp Fiction. Mas o hipnotismo do grande cinema é uma benção de Sacanas Sem Lei... Com a ajuda da grande interpretação de Cristoph Waltz no papel de caça-judeus nazi.

domingo, 30 de agosto de 2009

SEUN KUTI, ONTEM NO CCB

O groove teve sempre a prioridade, deixando tudo para trás: a melodia, a convenção ocidental de canção e até o protagonismo da estrela da noite, Seun Kuti, que muitas vezes saía da frente do palco. A música de Seun Kuti & Egypt 80 era de uma química que funcionava por várias camadas: as vocalizações de Seun e as respostas em coro uníssono de toda a banda, as batidas a partir de vários pontos do palco, os animados sopros de trompete e saxofones, as guitarrinhas repetitivas, as frenéticas dançarinas. Era uma festa para os ouvidos e para os olhos.

O afrobeat que passou esta noite pelo CCB é o funk antes dele ter nascido, apanhado ainda na barriga maternal que é África. Ter visto ao vivo Seun Kuti foi como ter assistido à ecografia de grande parte da música americana que hoje ouvimos.

Pode ler artigo desenvolvido no Cotonete.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

EXCITAÇÃO DA QUINZENA: MALTA DO FOGO


Fire on Fire, The Orchard (Young God, 2008)
Forest Fire, Survival (Broken Sound, 2009)

A música acaba de reescrever a sua versão do "Fahrenheit 451". Desta vez, os firemen passaram para o lado dos bons. Dos mesmo bons. Em vez de queimarem livros (como na obra literária de Ray Bradbury ou no filme de François Truffaut), dão-nos discos (mesmo muito bons). O fogo passou a uma metáfora inofensiva, simpática, lúdica até... Vá, não nos percamos em rodriguinhos, é um escaldão para a nossa alma, uma brasa!

E quem são estes novos beneméritos? Chamam-se Forest Fire e Fire on Fire (na foto acima) e vêm quase ao mesmo tempo para as lojas europeias, com os seus álbuns de estreia "Survival" e "The Orchard", respectivamente. Têm fogo no nome e nas mãos. Como não são egoistas (isto é, como publicam discos), dão-nos a conhecer esta efusiva piromania folk, tão americana. A música é de província, mas também muito pouco provinciana.

Concentremo-nos primeiro num dos tomos desta revisão musical ao "Fahrenheit", o belíssimo álbum dos Fire on Fire. Os cinco músicos (quatro homens e uma mulher) que o compõem vivem juntos em comunidade. Estão à margem das grandes fontes de conhecimento da internet. Não têm direito a menção no Wikipedia e são ostracizados no YouTube. Mas têm uma coisa muito mais importante: a benção de Michael Gira (ex-Swans), que co-produziu e publicou (através da sua editora, a Young God Records) este álbum, "The Orchard".

O multi-instrumentismo dos Fire on Fire merece um levantamento exaustivo do seu património, qual trabalho de avaliador. Usam os americanos harmónio (primo do órgão, com um som parecido ao do acordeão), banjo e guitarra metálica dobro; os orientais oud (parente árabe do alaúde em forma de pêra), nay (flauta oriental da cultura persa) e darbuka (a alma-gémea asiática do djembé); a balcânica tamboritza (outro tipo de alaúde); e o hippie djembé. Com toda aquela tralha, os Fire on Fire ainda arranjam espaço para os bocadinho mais normais acordeão, contrabaixo e pandeireta; e para a ainda mais normal guitarra.

Apesar desta expansão mundial instrumentista, a execução é 100% americana. Trata-se de uma felicidade exótica à Beirut mas sem passaporte, numa música muito viajada mas pela América dentro e não pelos Balcãs e vizinhanças. Os Fire on Fire cheiram a terra como os Felice Brothers. As raizes de bluegrass, os banjos às pazadas e aquelas vozes femininas à camponesa situam-nos também as Be Good Tanyas naquele horizonte largo de campos de trigo. Em suma, "The Orchard" soa à versão americana autêntica da blues-folk dos ingleses Gomez.

Os Fire on Fire sabem fazer a festa, têm aquela graça que nos embevece, um espírito destemido e grandes canções. Para o 2009 europeu, "The Orchard" é incontornável.

Entretanto, se estiver para se casar ou se tiver um(a) amigo(a) que esteja para dar o nó, e caso pertença a essa legião estimável dos simpatizantes do freak-folk, aconselhamo-lhe vivamente os Fire on Fire para banda de casamento. Fazem versões catitas e acústicas de clássicos rock e hard-rock (como os AC/DC). Basta ver uma das imagens disponíveis no seu MySpace. Quando for a minha vez, estou a pensar contratá-los.

Segundo tomo.
Parece perseguição geográfica: os Forest Fire são de Brooklyn, Nova Iorque. O espantoso álbum de estreia deste quarteto, "Survival" (já do ano passado), chega este mês à Europa e provocou já um deleite a este humilde escriba ao vosso serviço que jura a pés juntos (sem entradas maldosas sobre o adversário merecedoras do cartão vermelho) que nada tem que ver com dicas geográficas. Após consumação do entusiasmo pelo dito (e venerado) disco, este humilde escriba ao vosso serviço penetrou mais tarde no MySpace do grupo e quando viu a origem do grupo não quis acreditar. Que tamanho terá afinal Brooklyn, o de um continente? Será um borough nova-iorquino que em vez de ser 95% composto por médicos, professores e advogados, é habitado 99% por músicos, músicos e músicos? Há alguma isenção de pagamento de rendas aos que por lá tocam? Fala-se do hype como um malvado. Talvez seja. Mas se o hype está com Brooklyn, eu estou com o hype. Pelo menos em Brooklyn.

Que os Forest Fire são de Brooklyn, é 50% verdade. A outra metade (os outros dois) é da costa pacífico, dando aos Forest Fire uma imagem de funcionalidade por correspondência, numa dependência de comunicações semelhante à vivida pelos Pavement (que mais parecia uma cadeia americana de músicos espalhados do que uma banda).

Sobre aquilo que realmente interessa, a música, pode-se dizer que os Forest Fire são uma versão mais bucólica dos Walkmen - sim, é isso mesmo, estão mesmo muito próximos de Bob Dylan. Quando os imaginamos nas pradarias, têm a exaltação dos Arcade Fire e o grau aluado dos Violent Femmes. Mas quando nos é sugerida a garagem, vem ao de cima a faceta colérica dos Velvet Underground, com a chiadeira do violino a lembrar o som brutalmente enlouquecido da viola de arco de John Cale.

Trata-se de um álbum que é um brilhante revisionismo da folk através das melhores contramãos às convenções.

Versão editada de dois textos publicados no Cotonete, nas secções Novos Discos e Cotonete Play.

sábado, 22 de agosto de 2009

NO MEU CINEMA: «AS PRAIAS DE AGNÈS», de AGNÈS VARDA


Deste narcisismo, tem que se gostar. Aquilo não é só amor próprio, é amor ao cinema.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

OS 100 MELHORES ÁLBUNS DOS ANOS 90

Vai assim a contagem...

91º Pavement – Wowee Zowee (1995)
92º U2 – Zooropa (1993)
93º Flaming Lips – Soft Bulletin (1999)
94º Tom Waits – Mule Variations (1999)
95º Cat Power – What Would the Community Think (1996)
96º Super Furry Animals – Guerrilla (1999)
97º Neil Young – Dead Man (B.S.O.) (1996)
98º Mojave 3 – Ask Me Tomorrow (1996)
99º Man or Astro-Man? – Experiment Zero (1996)
100º Stereolab - Emperor Tomato Ketchup (1996)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A PROVOCAÇÃO DOS MY BLOODY VALENTINE

Os My Bloody Valentine deram no Rock One o concerto certo no local errado, no festival errado, no tempo errado.
No local errado? Uma actuação que obedece a um padrão intimista pensado para multidões pequenas, suportado por projecções de imagens psicadélicas e hipnótico-minimais num vasto ecrã atrás da banda, pede uma sala do género da do Grande Auditório da Gulbenkian? Será o recinto ao ar livre do Autódromo do Algarve parecido com o que aqui se pede? Será preciso dizer mais?
No festival errado? Os My Bloody Valentine são uma banda anti-concerto, anti-presença e, evidentemente, anti-festival. A postura dos guitarristas Kevin Shields (o geniozinho) e de Bilinda Butcher (que parece ter o dom de juventude eterna) é provocantemente estática e a atitude shoegazer é de um autismo psicadélico, imune aos insultos futebolísticos da arraia bárbara que se fizeram sentir. Quem os encaixotou num dia de punk adolescente, ou tem a faculdade de uma imaginação absurda, ou improvisou aos papéis uma solução de recurso acrítico (a segunda solução é de maior probabilidade).
No tempo errado? Falta um álbum novo a dar saúde artística a uma banda que, como bem provou nos arredores de Portimão, é absolutamente íntegra – não cede perante ambiente hostil... O maldito terceiro álbum já demora a sair há mais de 15 anos. Assentará bem o fardo de banda nostálgica aos My Bloody Valentine?
O resto foi um doce ataque sónico. Um paradoxo de ternura idílica com agressividade de ruído. Bem-ditos tampões de espuma! Por momentos, parecia que estava no local certo, a ver uma corrida automobilística, bem vacinado contra o barulho dos motores.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: THE BATS, «THE GUILTY OFFICE»

"The Guilty Office" é um belíssimo tomo de canções, movido por um romantismo pueril e por uma moderação pop que os aproxima muito aos Go-Betweens, com aquele espírito desinteressado por carreiras, concentrando-se apenas na música pela música. A batidinha velvetiana, a vozinha feminina (da guitarrista Kaye Woodward) na hora do refrão, os pequenos flirts à folk ou aquela meiguice intelectual são factores que empurram o sétimo álbum dos Bats para comparações com os Go-Betweens.

É verdade que a sobre-ocupação do líder Robert Scott em vários projectos (como os históricos pós-punks Clean, os The Magick Heads, a carreira a solo, mas há mais) interrompe rotinas e prejudica a afirmação da banda, mas nada justifica a desvalorização que tem vitimado os Bats. E este álbum incentiva essa indignação. Já são mais de vinte anos a produzir maravilhas. É hora de lhes prestarmos mais atenção. (Hidden Agenda, 2008)
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

OS 100 MELHORES ÁLBUNS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.
92º U2 – Zooropa (1993)
A última obra de outro mundo dos U2. Brian Eno tem a palavra nas manobras pop do satélite Zooropa, que detectam no éter uma interpretação assombrosa de Johnny Cash, em “Wanderer”.

3 músicas a ouvir: “Numb”, “Wanderer”, “Dirty Day”.

91º Pavement – Wowee Zowee (Big Cat, 1995)
O maior mosaico inter-estilos da discografia do grupo: punk sujo, country-rock, melodias pop, tudo. Aqueles acordes de guitarra que abrem “Grounded” pedem eternidade.

3 músicas a ouvir: “Grounded”, “Grave Architecture”, “AT & T”.

PS – Lista pessoal elaborada em Abril e Maio de 2009.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

ALIVE!09: RESCALDO EM 1/3


O saldo pessoal da 3ª edição do Optimus Alive! deste ano que faço é o do segundo dia, o único em que estive no Passeio Marítimo de Algés. Sou ainda mais específico e centro-me nas duas únicas propostas que me encheram as medidas (o que já não foi mau), todas elas do palco secundário mais importante, aquele mesmo da tenda Super Bock.
Sobre os Hadouken!, a sua actuação foi um empurrão violento para a festa que a enorme multidão que se concentrava naquela zona não se importou de sofrer. A fusão que fazem entre grime, indie rock, electrónica e até alguns power chords de metal, ou aquilo a que se chama de grindie, é um barril de pólvora ao vivo. Com batidas electrónicas fortes e um tapete denso de sintetizadores, os Hadouken! colocam o electro-pop na rua.
Os Fischerspooner deram um dos espectáculos mais bem trabalhados do festival. A experiência de ver ao vivo um projecto que nos habituámos a ouvir em discotecas, durante o furor do electroclash, era já de si interessante. Mas ver aquela figura glam do vocalista Casey Spooner, a lembrar um velho ícone excêntrico dos anos 70 chamado Jobriath, a dançar com espelhos e a cantar com uma intensidade dramática sobre um som synth-pop que é oitentista e ao mesmo tempo contemporâneo e futurista, dá ao concerto um impacto considerável para quem vê, que aumenta com a coreografia de quatro bailarinas a dançar o ritmo agressivo do electroclash.


Partes do texto retirados de reportagens publicadas para o Cotonete.

domingo, 12 de julho de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: OFFICIAL SECRETS ACT, «UNDERSTANDING ELECTRICITY»


Se por acaso se sentir cansado ou deprimido, não tome nenhum químico. Consuma antes este álbum de estreia dos Official Secrets Act, "Understanding Electricity", que muda a disposição pelas melhores razões se, por acaso, tiver alguma inclinação pelo indie rock.

É um pós-punk arrebitado, doce e orelhudo, com uma batida veraneante e um apelo poppy. O quarteto de Leeds liderado por Tom Charge Burke fervilha como os Undertones e encaixa em melodias simpáticas tão bem como os XTC. Mas há também elementos de maior contemporaneidade: o baixo soa à Pixies, os tecladinhos fazem lembrar os Wannadies, os refrões empolgantes trazem à memória os New Pornographers e os corinhos convidam a comparações com os Clap Your Hands Say Yeah.

Cada canção dá um óptimo single; ouvindo-se "Understanding Electricity" parece que é fácil fabricar hits, mesmo que com toda aquela integridade indie. (One Little Indian, 2009)

Pode ler artigo desenvolvido no site Cotonete.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

RELÍQUIAS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.

Heavenly - Operation Heavenly (Wiiija, 1996)
Conjunto leve de canções pop frágeis e elegantes, zelosamente guardadas em segredo para um pequeno culto. Quem ficou a perder foi o resto do mundo.
3 músicas a ouvir: “Space Manatee”, “Trophy Girlfriend” e “Nous Ne Sommes Pas des Anges”.

PS – Lista paralela aos 100 Melhores Álbuns dos Anos 90.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

OUTRAS EXCITAÇÕES

Seguem-se outras duas excitações recentes, dispostas por ordem decrescente de preferência.

Felice Brothers, Yonder Is the Clock (Team Love, 2009)
O álbum mais recente do agora quinteto americano, "Yonder Is The Clock", é uma maravilha de folclore pop nómada, transportada numa carroça de burros, que lhes dá uns ares de primos dos Walkmen lá da terriola. O fantasma de Bob Dylan também mete aqui o bedelho.


João Coração, Muda Que Muda (FlorCaveira, 2009)
O modo informalmente arcaico das canções de Coração convida liberdades maiores. E por isso, tudo encaixa tão bem, da melódica de Walter Benjamin ao contrabaixo de Miguel Gelpi à parceria vocal feminina de Lúcia Vaz Pato.

"Muda Que Muda" é um álbum despreocupadamente belo, feito de baladinhas luso-country, de corinhos solidários, de algumas razias ao nosso folclore e de uma erudição pouco clássica.
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

domingo, 5 de julho de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: GOLDEN SILVERS, «TRUE ROMANCE»


É uma das estreias mais estimulantes do ano, o primeiro longo dos Golden Silvers, "True Romance". O trio londrino comandado pelo multi-instrumentista e vocalista Gwilym Gold apresenta-nos uma pop com QI elevado, que inclui letras elaboradas que envergonham a banalidade e um manancial de música extenso composto por melodias indie pop muito inglesas (com o seu quê de Housemartins), pinceladas de funk e alguma tecnologia disco sound.

A pop é aveludada e a forma de cantar de Gwilym Gold mostra-se aristocrata, citando-se a elegância de nomes dos anos 80 como os Prefab Sprout ou banda actuais como os Elbow. (XL, 2009)
Extraído de texto escrito para o Cotonete, para a secção Cotonete Play.

sábado, 4 de julho de 2009

MICHAEL JACKSON (1958-2009): O GRANDE E.T. MUSICAL


À uma da manhã ligo a rádio para ouvir as notícias. Ou melhor, para ouvir a notícia, porque as outras já não consegui dar atenção. A frase “Michael Jackson morreu” teve em mim um impacto fictício, mas ao mesmo tempo já a esperava. Claro que não naquele dia, não daquela forma. Mas havia no ar um prenúncio de desgraça. O homem não estava bem.

Michael Jackson sempre teve um défice de normalidade. Na primeira metade da sua vida (até 1983), pelas melhores razões. Na segunda metade, pelas piores.

O astro de Gary era um sobredotado da música com um poleiro humanamente inatingível para um indivíduo de 24 anos e meio. Com aquela idade tinha já atrás de si um percurso público de quase década e meia. E o que tinha feito e que estava prestes a fazer não era pouco. Foi o menino-prodígio dos Jackson 5, que acumulavam êxitos e recordes de vendas inimagináveis. Iniciou, paralela e precocemente, uma carreira a solo ainda na fase etária do armário e ganhou dentro da Motown uma autonomia autoral face ao produtor que Marvin Gaye e Stevie Wonder só obtiveram em idade bem mais madura. Ainda menor, Michael Jackson tornou-se na primeira estrela da Motown a não caber naquela fábrica de êxitos (e não estamos a falar de uma editora qualquer).

Mas faltava muito mais, em pouco tempo. Michael Jackson era uma espécie de nadador de estilos, campeão em várias categorias, navegando à vontade nos mais diversos géneros: da soul ao funk, da pop ao disco-sound. Quando transformou esses géneros num híbrido empolgante e avançado que fez de Thriller uma obra visionária em 1982-83 (e que o antecessor Off the Wall fazia adivinhar), Michael Jackson merecia passar de príncipe a rei, subindo ao trono da pop onde estava a sua coroa. Para isso, fundou ainda um concepção de espectáculo ao vivo bastante mais exigente que colocava ao mesmo nível a imagem, a dança, a música e luzes, e revolucionou o conceito de promoção de um disco através dos videoclips e da MTV (numa relação profícua que alimentou mutuamente a estrela e a estação televisiva em afirmação). Como se não bastasse, Thriller, empurrado pela edição em número-record de sete singles (e, claro, de sete videoclips), tornou-se no álbum mais vendido de sempre – Thriller vendeu até hoje 109 milhões de cópias, mais do dobro do número de vendas do segundo álbum mais vendido, Back in Black dos AC/DC (a sua cifra está em 45 milhões). Aos vintes e poucos anos, o que Michael Jackson já tinha atingido era de um escala pouco terrena.

Lamenta-se, por isso, o que se seguiu: sobras que, de álbum para álbum, se afastaram cada vez mais da qualidade da obra-prima Thriller. Michael Jackson foi-se tornando numa sombra pálida de si mesmo, numa caricatura troçável bloqueada nos seus tiques, à medida que foi perdendo contacto com a realidade através de uma vida estranha e extravagante que poucos conseguiam compreender. O declínio nunca parou; o planeta que o aclamava, Michael Jackson conhecia-o cada vez menos. A magia foi murchando.

Fui uma das muitas crianças que chorou de medo quando viu pela primeira vez o vídeo da canção Thriller, realizado por John Landis. Era um misto de fascínio e de temor. Mas o fascínio foi vencendo – descobria naquele produto uma bizarria sobrenatural que era atraente; quando abria a edição vinil, havia ali um brilho espacial. Mas a idolatria infantil foi substituída mais tarde pela chacota adolescente e pelo desprezo adulto.

Porém, nunca nos esqueçamos que foi o talento quase sobre-humano que o colocou num local privilegiado do passeio da fama de Hollywood. Michael Jackson era de outro mundo. Agora, ficámos a saber que de lá já não sai de vez. Descobriu a paz, ao menos? Desconfia-se que sim.


quinta-feira, 11 de junho de 2009

REGRESSO MARCADO PARA INÍCIO DE JULHO

Até lá, meus caros!

EXCITAÇÃO DA SEMANA: CARMINHO, «FADO»


Muito já se escreveu sobre Carminho e bem. Mas diante deste álbum, do monumento vocal de Carminho e do grande mérito dos músicos que o acompanham, todas as frases hiperbólicas que descrevem a artista não têm sido exageradas. O talento da cantora é demasiado verdadeiro para se conseguirem esconder palavras bonitas.

Com o apoio activo de Diogo Clemente na guitarra clássica (na produção e nalgumas letras e arranjos), as participações especiais de Ricardo Rocha na guitarra portuguesa e de Carlos Barretto no contrabaixo (que intervém no tema Espelho Quebrado) e o apoio estrutural de João Pedro Ruela (o manager de Mariza), sabe-se que Carminho não está sozinha. Mas é ela que dá todo o sentido a tudo o que a rodeia (dos lado de cá e de lá do palco).

Terminam em "Fado" as hesitações sobre quem é a legítima sucessora de Amália - é um rótulo, é um rótulo pesado mas as cordas vocais de Carminho tratam disso. Que se sigam os próximos capítulos, que já sentimos saudades de a ouvir novamente. (EMI, 2009)

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

OS 100 MELHORES ÁLBUNS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.
94º Tom Waits – Mule Variations (Epitaph, 1999)
O génio sai do seu maior retiro de eremita de sempre para nos contar que tem um vizinho tão estranho quanto ele – e que construção andará a fazer naquela casa? O resto é um híbrido americano anarquista, em boa colheita, com o tal trato macabro de Waits.
3 músicas a ouvir: “What’s He Building?”, “Big in Japan” e “Come On Up to the House”.

93º Flaming Lips – Soft Bulletin (Warner, 1999)
Varinha mágica electro-psicadélica de efeitos virtuais sinfónicos e cinematográficos, uma colecção épica de canções do fabrico da mente bizarra de Wayne Coyne.
3 músicas a ouvir: “Race for the Prize”, “What Is the Light” e “Gash”.

PS – Lista pessoal elaborada em Abril e Maio de 2009.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

OUTRAS EXCITAÇÕES

Por ordem decrescente de preferência, seguem outras excitações dos tempos mais recentes.
Grizzly Bear, Veckatimest (Warp, 2009)
Ao terceiro álbum, "Veckatimest", a banda comandada por Ed Droste e Daniel Rossen faz com o seu balão de ensaio o voo mais aproximado ao céu de sempre do grupo. Há sempre qualquer coisa de mais trabalhado e mais apurado que se nota nos mais ínfimos pormenores. As camadas de harmonias vocais cristalinas têm qualquer coisa medieval de coros gregorianos que fazem da mais quotidiana garagem o seu convento - o encadeamento de vozes chega a ser arrebatador. Noutro dado intemporal, há uma tendência para pintar floreados mais barrocos, com apetrechos como a flauta, naquele mundo que é, ainda assim, de guitarras eléctricas.

Obsessivos-compulsivos em criar, os Grizzly Bear revelam-nos à velocidade de cada segundo uma ideia nova, em poucos segundos um enquadramento diferente. Crescem num instante para a dimensão de uma sinfonia e o seu idílio celeste sente-se até no próprio ricochete dos sons instrumentais.

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

Tó Trips, Guitarra 66 (Mbari, 2009)
Tó Trips nasceu para o algarismo 6. Nasceu em '66. Cresceu a dedilhar 6 cordas. E no seu imaginário de viajante, globaliza a estrada 66 para lá da América, nalgum asfalto português que passe por Esmoriz, nalgum caminho norte-africano que consiga ligar Marrocos ao Egipto.

"Guitarra 66" é uma viagem de Trips para fora, muito para dentro dele mesmo. A partir do estrangeiro, entramos no íntimo do guitarrista como nunca estivemos antes. "Guitarra 66" é um álbum de temperaturas quentes tocado a preto e branco. Moreno, mediterrâneo, contemplativo. Tó Trips nunca expôs tanto a sua alma. E o que está lá dentro é um mundo.
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

Vários, War Child Presents Heroes (Parlophone, 2009)
"War Child Presents Heroes" é uma compilação com o fim muito nobre de ajudar as vítimas (sobretudo crianças) de palcos de guerra como o Iraque, o Afeganistão ou o Zaire (antigo Congo Belga). O conceito é desde logo atraente: cada lenda musical selecciona uma música da nova geração para fazer uma recriação de uma canção sua. Beck é o que melhor corresponde à chamada (do monstro Bob Dylan, no caso), revolucionando a lenga-lenga folk-blues de 'Leopard Skin Pill Box Hat' com o seu electro-rock desengonçado, mantendo o saudável vício de impor o seu estilo, mesmo em composições alheias. Beck continua a ser o branco com mais ritmo do mundo, o genuíno preto de cabelo loiro (mesmo que sem carapinha).
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

sábado, 6 de junho de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: SONIC YOUTH, «THE ETERNAL»


Uma tartaruga-gigante é capaz de durar 150 anos, uma ovelha sobrevive a 12 e uma borboleta aguenta-se durante seis semanas no Verão. Mas a vida artística de uma banda de rock não dura mais do que vinte anos, excepto se falarmos dos Sonic Youth. "The Eternal" impõe-nos esta conclusão excepcional, com um título que só nos Sonic Youth não é gratuito.

Os Rolling Stones, os U2 ou os Depeche Mode são hoje meros negócios que põem a render períodos criativos que não ultrapassaram, em cada caso, 15 primaveras. Jim Morrison e Kurt Cobain morreram antes de tempo, condenando os Doors e os Nirvana ao mesmo destino. E mesmo na vanguarda, bandas criativas como os Pere Ubu, os Fall ou os Red Krayola são mais o reflexo da personalidade dos seus líderes do que uma identidade colectiva estável. Mas os Sonic Youth sempre estiveram aí e sempre foram uma BANDA - desde sempre (desde 1981), Kim Gordon, Thurston Moore, Lee Ranaldo e, desde 1986, o baterista Steve Shelley - como hoje tão bem o mostram.

Provavelmente, os Sonic Youth fizeram a maior invenção do rock de todos os tempos: aquela corrosão desconstrutiva de guitarras dinamizada por uma raríssima democracia de três cabeças compositoras (Gordon, Moore e Ranaldo) ainda hoje rende, já lá vão quase trinta anos. As alterações sempre foram progressivas e nunca súbitas: foram-se desprendendo do som aterrador e violento com que apareceram ao mundo em "Confusion Is Sex" e foram amaciando o seu som para um modo mais confortável, tudo isto sem grandes cortes.

Mais do que grandes músicas e que uma cultura, é a força exibida por um álbum como "The Eternal" que impresiona e a forma como uma boa ideia resiste com tanta saúde. Claro que há pequenas novidades no disco: há mais coabitação de várias vozes nas próprias músicas entre os três compositores e, factualmente, o baixista Mark Ibold (ex-Pavement) aparece como o quinto membro. Mas acima de tudo há um acréscimo de mais uma dose de canções para a brilhante colecção dos Sonic Youth. O jogo de cintura entre as intervenções sound-art e os compromissos melodiosos de uma canção é ainda um mote incendiário para a alma do fã do grupo.

Os Sonic Youth são um modo de vida. A mini-saia continua a assentar bem na saltitante Kim Gordon; a longa franja de Thurston Moore continua a dar-lhe um ar juvenil; e Lee Ranaldo mantém o seu (des)penteado informal. Mas a sua vitalidade continua a ser a música. (Matador, 2009)

Artigo publicado no site Cotonete.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

RELÍQUIAS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.
Mão Morta – Mutantes S.21 (Fungui, 1992)
Inter-rail sanguinário em nove cidades e a velocidade escaldante. "Budapeste" foi um acidente a meio-percurso que não alterou o traçado das viagens subsequentes da banda.
3 músicas a ouvir: “Lisboa (Por Entre as Sombras e o Lixo)”, “Barcelona (Encontrei-a na Plaza Real)” e “Amesterdão (Have Big Fun)”.

PS – Lista paralela aos 100 Melhores Álbuns dos Anos 90.

domingo, 31 de maio de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: IGGY POP, «PRÉLIMINAIRES»


Sem grandes recursos humanos e sem se alongar muito (o álbum mal ultrapassa a meia-hora), Iggy Pop faz uma obra abrangente e coerentemente conexa, mostrando que há muito mais no seu mundo que o rock & roll e o frenesim. Há também meditação filosófica e um pouco de calma.

Inspirado pelo livro de Michel Houellebecq, "La Possibilité d'une île", Iggy Pop consegue converter-se num homem de standards de jazz ao estilo clássico de Nova Orleães ('King of the Dogs'), num romântico da chanson française ao estilo pop do Serge Gainsbourg dos anos 80 (na versão do clássico 'Les Feuilles Mortes'), num músico de blues de rua à antiga ('He's Dead/She's Alive'), num experimentalista ambiental avant-garde ('Party Time'), num renovador da bossanova (na versão de Jobim, 'How Insensitive') e até num rock & roller que ainda não vendeu os seus cavalos de corrida ('She's a Business'), sem nunca ser paradoxal. Os ares afrancesados (e fumegantes) de 'Préliminaires' e o maior espaçamento da música da Iguana dão uma unidade exemplar a este livro de vários estilos.

Iggy Pop mostra assim uma nova vida e renasce. (Astralwerks/Virgin, 2009)

Pode ler artigo desenvolvido no Cotonete.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

OS 100 MELHORES ÁLBUNS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.
96º Super Furry Animals – Guerrilla (Flydaddy, 1999)
Talvez o mundo se tenha inclinado demasiado para OK Computer dos Radiohead, devorando-o e gastando-o, desguarnecendo maravilhas como Guerrilla destes simpáticos galeses. Neste álbum, e sobretudo na cabeça do líder Gruff Rhys, está o ponto de equilíbrio perfeito entre a criança e o adulto, extraindo-se o melhor de cada: a criatividade selvagem e a progressão intelectual, respectivamente.
Mas psicadelismo e electrónica com salsa talvez seja uma degustação demasiado estranha para o mundo lhe dar o devido valor.
3 músicas a ouvir: “Some Things Come from Nothing”, “Do or Die” e “Night Vision”.

95º Cat Power – What Would the Community Think (Matador, 1996)
Por vezes, sente-se mais prazer num momento que adivinha outro momento maior do que o próprio momento maior. Preferir a escalada ascendente ao cume faz até imenso sentido, mais ainda se pensarmos neste disco, um preparativo cru com cheiros a Sonic Youth e a Patti Smith. E a folk era já uma miragem (um desejo, mesmo que ainda inalcançável).
O desenho de mais um grande cromo feminino na caderneta do rock & roll ganha aqui importantes contornos.
3 músicas a ouvir: “Nude as the News”, “Bathysphere” e “Enough”.

PS – Lista pessoal elaborada em Abril e Maio de 2009.

domingo, 24 de maio de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: MANIC STREET PREACHERS, «JOURNAL FOR PLAGUE LOVERS»


Os Manic Street Preachers são uma banda de rock invulgar, não por causa de alguma extravagância experimentalista mas por serem radicalmente clássicos, resistentemente clássicos. E nos dias que correm, já ninguém o é. Ou pelo menos da forma persistente e crente com que os Manics se apresentam, não há quem. O mérito da sua peculiaridade não está tanto no querer mas sim no conseguir ser. O formato clássico rockeiro do grupo de James Dean Bradfield é uma obstinação, um triunfo que dura vinte anos, e não uma casmurrice.

Houvesse mais meia-dúzia de bandas com a política e, palavra importante, a qualidade dos Manics neste mundo, e o rock, tal e qual como o conhecíamos, poderia ter prolongado o seu prazo de validade até aos dias de hoje, com os dias gloriosos da rádio em polvorosa e massas de multidão a acorrerem aos estádios e aos grandes pavilhões para verem a sua banda eleita. Os Manic Street Preachers trabalham hoje como se esse mundo ainda existisse e é isso que lhes dá uma identidade única. E de certo modo conseguem esse "furo", só que agora esse mundo é uma recriação exclusiva dos Manics.

Chegados agora ao nono álbum após normais e anormais oscilações, o grupo recupera 13 dos últimos escritos do guitarrista desaparecido Richey Edwards para as 13 faixas do disco novo. É esse o factor noticioso nº1 de Journal for Plague Lovers, aquilo que se deve escrever numa sinopse. Mas com o tempo, e ultrapassados os aspectos factuais, o que vai sobrar de Journal for Plague Lovers vão ser as maravilhosas canções que ali constam, uma colectânea explosiva de grandes baladas e de rock inflamado - quase todos os temas bons candidatos a singles; conseguir-se-á destacar algum?, não consigo - que dão razão e saúde à crença tradicionalista da banda.

Conforme o álbum nos relembra, não há quase banda pop nenhuma que tenha no vocalista uma voz tão expansiva e calorosa como a de James Dean Bradfield. E deve ser difícil encontrar alguém que durante quase vinte anos mantenha viva na alma uma raiva punk tão arrebatadora quanto ele. Nicky Wire, que com Richey Edwards compunha a facção glam-poética da banda, aceitou prescindir do seu papel activo de letrista em favor da poesia inédita do seu velho amigo desaparecido que une todo álbum. Mas é o baterista Sean Moore que, no mínimo, merece tantos créditos em Journal for Plague Lovers quanto James, Nicky e Richey. Moore consegue desdobrar-se pelos bombos como se fosse um homem-polvo com oito membros; não oito tentáculos, mas quatro braços e quatro pernas herculeamente disponíveis para bombear batidas com as baquetas e os pedais. É, também, o trabalho notável do baterista que dá sentido ao que representa "Journal for Plague Lovers": um ponto intermédio entre a sonoridade dos primeiros álbuns (sobretudo os aguerridos Generation Terrorists e Holy Bible) e um tempo mais maduro e desapressado (reflectido em obras como This Is My Truth Tell Me Yours e Lifeblood).

Os Manic Street Preachers não têm pudores estéticos e por isso têm uma margem musical tão larga: ligam The Clash com Guns N' Roses (como acontece no álbum de estreia, Generation Terrorists), e ABBA com Joy Division (como se pode ouvir no maravilhoso e demasiado irreconhecido Lifeblood), com uma coesão só possível na banda galesa. Em Journal for Plague Lovers, a banda que venera o trabalho da pintora Jenny Saville (ao ponto de usar um dos seus trabalhos para capa do disco) é a mesma que vai em busca de um rock-FM orelhudo e fresco, sem nunca destoar. É também por isso que este é um álbum enorme. (Columbia, 2009)

Artigo publicado no site Cotonete.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

OBRIGADO, BÉNARD

A Cinemateca foi durante anos uma espécie de segunda casa para mim. Além dos ciclos que seguia apaixonadamente, era um sítio onde revia velhos amigos, onde fazia outros e onde, volta e meia, via aquela figura bonacheirona e sábia que dava pelo nome de Bénard da Costa, o guardião cultural da casa - que ia aparecendo.
Aquelas simpáticas Folhas da Cinemateca, que se liam após cada sessão, denunciavam assinatura por Bénard sempre que as mesmas tinham quatro páginas em vez das habituais duas. E não se conseguiam deitar fora de tão bem escritas – que. claro, nunca se conseguiam resumir ao cinema, havia ali uma graça luminosa com muito mais fontes (literatura, pintura, música clássica, religião, política). Tenho ali um dossier grosso que as guarda quase todas.
Numa deliciosa entrevista dada a Clara Ferreira Alves (como eram todas as que dava), Bénard da Costa confessava não poder acreditar na mortalidade da alma, não admitia que a riqueza humana de um indivíduo pudesse desaparecer só porque o seu corpo morria. Eu também não acredito. Esse reservatório não-táctil de impressões, intuições, gostos e conhecimentos que distinguia Bénard tem que ir para algum lado. Não vai assim com uma aragem.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

OS 100 MELHORES ÁLBUNS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.
98º Mojave 3 – Ask Me Tomorrow (4AD, 1996)
Americana mais brit não deve haver. É uma memorável colecção de canções que confirma uma das grandes metamorfoses da década, dos furacões de guitarra eléctrica shoegazer dos Slowdive a um formato mais folk e cinematográfico da nova formação dos Mojave 3, como se Nick Drake tivesse ficado enamorado pela música dos Cowboy Junkies. Ask Me Tomorrow é o último grande momento de rédea vocal para Rachel Goswell, para pena das composições subsequentes de Neil Halstead.
3 músicas a ouvir: “Tomorrow’s Taken”, “Sarah”, Mercy”.

97º Neil Young – Dead Man (B.S.O.) (Warner, 1996)
Sem o seu habitual gangue de cavaleiros selvagens, Neil Young, da solidão do alto do seu monte americano, documentou algum soundcheck muito inspirado para o western mais atípico de todos, Dead Man de Jim Jarmusch. Não foi preciso nenhuma orquestra de cordas, o épico estava no espírito de Neil Young que numa sessão improvisada e arranhada à guitarra eléctrica e ao órgão, abanando-se numa sombra corcunda perante o grande ecrã, soltou garras. Bastou.

PS – Lista pessoal elaborada em Abril e Maio de 2009.