quinta-feira, 11 de junho de 2009

REGRESSO MARCADO PARA INÍCIO DE JULHO

Até lá, meus caros!

EXCITAÇÃO DA SEMANA: CARMINHO, «FADO»


Muito já se escreveu sobre Carminho e bem. Mas diante deste álbum, do monumento vocal de Carminho e do grande mérito dos músicos que o acompanham, todas as frases hiperbólicas que descrevem a artista não têm sido exageradas. O talento da cantora é demasiado verdadeiro para se conseguirem esconder palavras bonitas.

Com o apoio activo de Diogo Clemente na guitarra clássica (na produção e nalgumas letras e arranjos), as participações especiais de Ricardo Rocha na guitarra portuguesa e de Carlos Barretto no contrabaixo (que intervém no tema Espelho Quebrado) e o apoio estrutural de João Pedro Ruela (o manager de Mariza), sabe-se que Carminho não está sozinha. Mas é ela que dá todo o sentido a tudo o que a rodeia (dos lado de cá e de lá do palco).

Terminam em "Fado" as hesitações sobre quem é a legítima sucessora de Amália - é um rótulo, é um rótulo pesado mas as cordas vocais de Carminho tratam disso. Que se sigam os próximos capítulos, que já sentimos saudades de a ouvir novamente. (EMI, 2009)

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

OS 100 MELHORES ÁLBUNS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.
94º Tom Waits – Mule Variations (Epitaph, 1999)
O génio sai do seu maior retiro de eremita de sempre para nos contar que tem um vizinho tão estranho quanto ele – e que construção andará a fazer naquela casa? O resto é um híbrido americano anarquista, em boa colheita, com o tal trato macabro de Waits.
3 músicas a ouvir: “What’s He Building?”, “Big in Japan” e “Come On Up to the House”.

93º Flaming Lips – Soft Bulletin (Warner, 1999)
Varinha mágica electro-psicadélica de efeitos virtuais sinfónicos e cinematográficos, uma colecção épica de canções do fabrico da mente bizarra de Wayne Coyne.
3 músicas a ouvir: “Race for the Prize”, “What Is the Light” e “Gash”.

PS – Lista pessoal elaborada em Abril e Maio de 2009.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

OUTRAS EXCITAÇÕES

Por ordem decrescente de preferência, seguem outras excitações dos tempos mais recentes.
Grizzly Bear, Veckatimest (Warp, 2009)
Ao terceiro álbum, "Veckatimest", a banda comandada por Ed Droste e Daniel Rossen faz com o seu balão de ensaio o voo mais aproximado ao céu de sempre do grupo. Há sempre qualquer coisa de mais trabalhado e mais apurado que se nota nos mais ínfimos pormenores. As camadas de harmonias vocais cristalinas têm qualquer coisa medieval de coros gregorianos que fazem da mais quotidiana garagem o seu convento - o encadeamento de vozes chega a ser arrebatador. Noutro dado intemporal, há uma tendência para pintar floreados mais barrocos, com apetrechos como a flauta, naquele mundo que é, ainda assim, de guitarras eléctricas.

Obsessivos-compulsivos em criar, os Grizzly Bear revelam-nos à velocidade de cada segundo uma ideia nova, em poucos segundos um enquadramento diferente. Crescem num instante para a dimensão de uma sinfonia e o seu idílio celeste sente-se até no próprio ricochete dos sons instrumentais.

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

Tó Trips, Guitarra 66 (Mbari, 2009)
Tó Trips nasceu para o algarismo 6. Nasceu em '66. Cresceu a dedilhar 6 cordas. E no seu imaginário de viajante, globaliza a estrada 66 para lá da América, nalgum asfalto português que passe por Esmoriz, nalgum caminho norte-africano que consiga ligar Marrocos ao Egipto.

"Guitarra 66" é uma viagem de Trips para fora, muito para dentro dele mesmo. A partir do estrangeiro, entramos no íntimo do guitarrista como nunca estivemos antes. "Guitarra 66" é um álbum de temperaturas quentes tocado a preto e branco. Moreno, mediterrâneo, contemplativo. Tó Trips nunca expôs tanto a sua alma. E o que está lá dentro é um mundo.
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

Vários, War Child Presents Heroes (Parlophone, 2009)
"War Child Presents Heroes" é uma compilação com o fim muito nobre de ajudar as vítimas (sobretudo crianças) de palcos de guerra como o Iraque, o Afeganistão ou o Zaire (antigo Congo Belga). O conceito é desde logo atraente: cada lenda musical selecciona uma música da nova geração para fazer uma recriação de uma canção sua. Beck é o que melhor corresponde à chamada (do monstro Bob Dylan, no caso), revolucionando a lenga-lenga folk-blues de 'Leopard Skin Pill Box Hat' com o seu electro-rock desengonçado, mantendo o saudável vício de impor o seu estilo, mesmo em composições alheias. Beck continua a ser o branco com mais ritmo do mundo, o genuíno preto de cabelo loiro (mesmo que sem carapinha).
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

sábado, 6 de junho de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: SONIC YOUTH, «THE ETERNAL»


Uma tartaruga-gigante é capaz de durar 150 anos, uma ovelha sobrevive a 12 e uma borboleta aguenta-se durante seis semanas no Verão. Mas a vida artística de uma banda de rock não dura mais do que vinte anos, excepto se falarmos dos Sonic Youth. "The Eternal" impõe-nos esta conclusão excepcional, com um título que só nos Sonic Youth não é gratuito.

Os Rolling Stones, os U2 ou os Depeche Mode são hoje meros negócios que põem a render períodos criativos que não ultrapassaram, em cada caso, 15 primaveras. Jim Morrison e Kurt Cobain morreram antes de tempo, condenando os Doors e os Nirvana ao mesmo destino. E mesmo na vanguarda, bandas criativas como os Pere Ubu, os Fall ou os Red Krayola são mais o reflexo da personalidade dos seus líderes do que uma identidade colectiva estável. Mas os Sonic Youth sempre estiveram aí e sempre foram uma BANDA - desde sempre (desde 1981), Kim Gordon, Thurston Moore, Lee Ranaldo e, desde 1986, o baterista Steve Shelley - como hoje tão bem o mostram.

Provavelmente, os Sonic Youth fizeram a maior invenção do rock de todos os tempos: aquela corrosão desconstrutiva de guitarras dinamizada por uma raríssima democracia de três cabeças compositoras (Gordon, Moore e Ranaldo) ainda hoje rende, já lá vão quase trinta anos. As alterações sempre foram progressivas e nunca súbitas: foram-se desprendendo do som aterrador e violento com que apareceram ao mundo em "Confusion Is Sex" e foram amaciando o seu som para um modo mais confortável, tudo isto sem grandes cortes.

Mais do que grandes músicas e que uma cultura, é a força exibida por um álbum como "The Eternal" que impresiona e a forma como uma boa ideia resiste com tanta saúde. Claro que há pequenas novidades no disco: há mais coabitação de várias vozes nas próprias músicas entre os três compositores e, factualmente, o baixista Mark Ibold (ex-Pavement) aparece como o quinto membro. Mas acima de tudo há um acréscimo de mais uma dose de canções para a brilhante colecção dos Sonic Youth. O jogo de cintura entre as intervenções sound-art e os compromissos melodiosos de uma canção é ainda um mote incendiário para a alma do fã do grupo.

Os Sonic Youth são um modo de vida. A mini-saia continua a assentar bem na saltitante Kim Gordon; a longa franja de Thurston Moore continua a dar-lhe um ar juvenil; e Lee Ranaldo mantém o seu (des)penteado informal. Mas a sua vitalidade continua a ser a música. (Matador, 2009)

Artigo publicado no site Cotonete.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

RELÍQUIAS DOS ANOS 90

Em notas meramente pessoais e em mini-sinopses.
Mão Morta – Mutantes S.21 (Fungui, 1992)
Inter-rail sanguinário em nove cidades e a velocidade escaldante. "Budapeste" foi um acidente a meio-percurso que não alterou o traçado das viagens subsequentes da banda.
3 músicas a ouvir: “Lisboa (Por Entre as Sombras e o Lixo)”, “Barcelona (Encontrei-a na Plaza Real)” e “Amesterdão (Have Big Fun)”.

PS – Lista paralela aos 100 Melhores Álbuns dos Anos 90.