sábado, 31 de janeiro de 2009

PROMESSAS 2009

Doismileoito, de Maia
O trio da cidade nortenha da Maia é uma das grandes apostas da multinacional EMI para este ano. O álbum de estreia, de título homónimo, sai já em Fevereiro.

Os Doismileoito são um power trio de multi-instrumentistas composto por Pedro Pereira (na guitarra e voz), Nicolau Fernandes (no baixo e nos teclados) e André Augusto (na bateria e nos teclados) e apresentam um rock fresco e inteligente, que sabe utilizar muito bem a língua portuguesa.

Influenciados nas suas adolescências pelos Beatles e pelos Nirvana, têm uma ambivalência e uma capacidade de explosão que lembram os saudosos Ornatos Violeta. São uma autêntica montanha russa, capazes de alternar na mesma música entre uma macieza pop algo erudita e um modo eléctrico mais ríspido a que chamamos de rock.
Já passaram por um dos palcos secundários do Festival Sudoeste e estiveram em grande na actuação que deram no Super Bock em Stock, em Lisboa.

Desafiam as regras elementares da matemática: são três, mas pela valia instrumentista, parecem mais. E são a prova de que ainda não está tudo escrito sobre a nova geração de bandas rock nacional; mas os Doismileoito vão ainda mais longe, deixando entender que o melhor do livro está ainda para vir. As próximas páginas são aguardadas com ansiedade.

Artigo publicado no site Cotonete, para o especial Mapa Astral de 2009.
Última promessa de 5.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PROMESSAS 2009


Carminho, Lisboa
Carminho é o nome desta jovem fadista lisboeta, que cresceu no Algarve. Carminho pode vir a ser também o nome do futuro do fado. Disputada por várias editoras, encontra-se a gravar o seu álbum de estreia no segredo dos deuses.

O seu talento não engana e impressionou as almas que a puderam ver numa casa de Alfama. Mesmo ainda sem álbum, o seu currículo começa já a assustar: participou no filme de Carlos Saura, Fados, já passou pela Casa da Música (Porto) e foi uma das convidadas do espectáculo comemorativo dos 45 anos de carreira de Carlos do Carmo, no Pavilhão Atlântico. Mas para já, o burburinho de Carminho cinge-se mais ao fenómeno do passe-a-palavra.

Canta a melancolia mas não é melancólica; tem garras de triunfadora e um perfume do fado que exige o imediato silêncio e o posterior espanto.
Nascida num meio familiar amante do fado, especialmente a mãe, Carmo Rebelo de Andrade, de seu nome verdadeiro, foi crescendo com a música popularizada por Amália Rodrigues. Mas foi numa viagem de voluntariado de 11 meses que teve a intuição de que o fado viria a ser a sua vida.

Carminho tem todas as cartas do seu lado: juventude (23 anos de idade), talento a rodos, a confiança dos seus parceiros e um ano como 2009 que pode vir a ser grande para esta cantora.

Artigo publicado no Cotonete, no especial Mapa Astral de 2009.
4ª promessa de 5.

PROMESSAS 2009


Welcome Wagon, Nova Iorque
Já nos habituámos a ver a folk metida no bedelho da indie pop. Menos comum é ver um projecto a conseguir acrescentar o gospel a esse híbrido como parte do seu ADN. É o caso destes Welcome Wagon, formados pelo casal Monique/Reverendo Thomas Aiuto.

O álbum de estreia Welcome to the Welcome Wagon é uma das melhores obras do final de 2008. A data de edição ocorrida em Dezembro passado atraiçoou alguns balanços do ano que passou, mas 2009 vai ter que contar com esta dupla insólita.

Em Welcome to the Welcome Wagon, nota-se o dedo da produção de Sufjan Steven, e a sua tendência para orquestrar a folk, juntando aos sons de banjo umas quantas cordas e uns quantos sopros.

Mas há muito mais: um certo bucolismo country armadilhado pela mesinha da guitarra pedal steel; uma corrente poeirenta à Calexico vinda do sul, dos sons mexicanos soprados à mariachi; e uma forma caricatural de usar a música para celebrar a vida. A música é vagarosa, meiga mas também optimista.

A seu favor têm também a versão dos Smiths, 'Half a Person', muito bem desviada para o universo mais pueril dos Belle and Sebastian e também para a exuberância dos Polyphonic Spree.

Algumas das publicações de música já fizeram o seu trabalho elogioso, espera-se agora o fenómeno de culto dos fãs.

Artigo publicado no Cotonete, no especial Mapa Astral de 2009.
3ª promessa de 5.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

PROMESSAS 2009


Florence and the Machine, de Inglaterra

Florence Welsh e Florence and the Machine são praticamente a mesma coisa, a derivação nominativa é um mero detalhe artístico, com acréscimo de banda. Welch tem apenas 22 anos e cumpre a tradição de uma formando do curso de artes, levando mil e um mundos diferentes para a música.

A peculiaridade da sua música assenta na ideia musical de Adam & The Ants no feminino. Temos então percussões tribais adaptadas ao pop-rock inconformista, um revisionimo barroco e uma atitude punk que, quando encorpada por uma mulher como Florence Welch, soa sempre melhor e mais feroz.

As garras selvagens de Florence and the Machine dão para tudo e são até domesticáveis, sabendo respeitar muito bem o método arrumadinho da pop linear ao estilo de Adele. Cumprido o horário de formalidades de boa menina de colégio, Florence salta da janela e solta o diabrete que há em si, inspirando um corpo instrumental psychobilly à Cramps, que a cantora vocaliza com uma excentricidade vocal arty que homenageia a cada vez menos esquecida Kate Bush.

Noutros becos que se desvendam para o tesouro de Florence, encontramos a musa folk com uma alma do tamanho de uma Karen Dalton ou de uma Shannon Wright, mas descobrimos igualmente um monstro soul que só não formaliza candidatura a nova Amy Winehouse porque a riqueza da personalidade desta nova intérprete não o permite.

Está aqui uma Mulher-Maravilha, com dons sobre-humanos de fada que fazem lembrar Björk e que potenciam voos mais altos que os conseguidos por Bat for Lashes (uma das parentes próximas de Florence and the Machine).

Dispondo de uma máquina tetra-céfala (um guitarrista, uma teclista, um baterista e um harpista), a vocalista/percussionista Florence está a gerar justas expectativas com o seu álbum de estreia (ainda sem título), previsto para Maio.

Artigo publicado no Cotonete, no especial Mapa Astral de 2009.
2ª promessa de 5.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

PROMESSAS 2009


Smix Smox Smux, de Braga
Indie rock à minhota. Na brasa.

1ª promessa de um série de 5.

domingo, 25 de janeiro de 2009

YOU CAN’T BEAT ALASKA


No psicadélico road movie Vanishing Point, o louco condutor Kowalski ignora as palavras sábias do seu guia espiritual, o radialista cego Super Soul, que o avisa: “You can beat the road, you can beat the clock but you can’t beat the desert”. É demasiado óbvio que Super Soul tinha razão.

O mesmo aviso podia ter sido dado aos aventureiros norte-americanos Timothy Treadwell (1957-2003) e Christopher McCandless (1968-1992), em relação à natureza selvagem do Alasca. Treadwell acreditou que podia viver no habitat de ursos como se fosse um deles; McCandless confiou que para o seu isolamento espiritual no parque natural de Denali poderia prescindir de objectos de sobrevivência como mapas ou bússolas. A natureza desfeiteou-os, sem misericórdia. A morte de Treadwell foi mais rápida, nas garras de um urso mais esfomeado; o perecimento de McCandless foi lento e penoso, como de qualquer outro caso de fome.
Timothy Treadwell e Christopher McCandless até se podiam ter encontrado em 1992. Timothy Treadwell tinha começado em 1991 a passar temporadas veraneantes no ambiente selvagem dos ursos. Mas os destino de ambos só se cruzaram na inspiração de duas grandes longa-metragens: as filmagens de Timothy Treadwell foram a base para o documentário Grizzly Man, do cineasta alemão Werner Herzog; o diário escrito de Christopher McCandless motivaria o livro biográfico de Jon Krakauer, Into th Wild, que daria origem ao belíssimo filme de ficção de Sean Penn com o mesmo nome.

Herzog, habituado a enfrentar a força da natureza, como comprovam os filmes da Amazónia Aguirre, O Guerreiro e Fitzcarraldo, identificou-se com a atitude louca e apatetada de Treadwell; Penn elevou-se à condição de grande cineasta graças ao trato humano gigante dado a Into the Wild (o mesmo se pode dizer da banda sonora de free-country de Eddie Vedder).

Apreciação intemporal e circunstancial, sem agendas.

sábado, 24 de janeiro de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: SEUN KUTI & EGYPT 80, “MANY THINGS”

Neste seu início de história, Seun Kuti aparece-nos como um afro-revolucionário, pouco agradado com os que ocupam o poder no seu continente e muito menos com o desastre das suas políticas (do início, "Think Africa", ao fim, "African Problems"). As suas crónicas de maldizer (Seun não se fica pelo escárnio) são colunas de guerra opinativas e musicadas, "megafonadas" sobre uma manta de saxofones e de percussões, e sobre uma ninhada de acordes de guitarra obstinadamente gémeos, além de coros femininos que dançam nos nossos ouvidos mesmo sem os vermos.

Álbum de afro-beat? Chapado. Está lá tudo: o estranho paradoxo de uma música de província inspirada nas grandes favelas de uma grande metrópole africana como Lagos (a capital da Nigéria); um minimalismo funk muito majestoso que lhe dá ares de subgénero mais rude de jazz; um groove em alta que nunca se descuida e que faz de Many Things uma festa contínua, sem horas, disposta a percorrer toda a madrugada.

Já vimos do pai este filme. Mas filho de peixe sabe nadar, não sabe copiar. E este é um caso de descendência pelas melhores razões e não de plágio e de subalternização. Seun Kuti é controverso mas não tão louco quanto o pai. Tem um trato mais meigo e menos intempestivo. E opta um controlo da música mais ocidentalizado, evitando durações de mais de dez minutos por tema (costume do pai).

O ritmo é o rastilho, a mensagem é o fogo, e este álbum incendeia almas e corpos. A passagem de testemunho pode ter ainda as impressões digitais do pai muito documentadas. Mas Seun Kuti tem talento e vida para dar mais mil e um virotes a esse testemunho. Para já, sabemos que o testemunho fica muito bem entregue. (Tot Ou Tard, 2008)

Pode ler artigo desenvolvido no site Cotonete.


[“Mosquito Song” ao vivo em Dakar, Senegal, em 2005]

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

JOÃO AGUARDELA

O frenesim da semana não me tinha dado sequer breves segundos para escrever sobre o choque que constituiu para mim a morte tão prematura deste músico (1969-2009). Agora que os tenho, vou aproveitar para recordar alguns aspectos que me marcaram enquanto mero ouvinte que nunca chegou a conhecê-lo pessoalmente.

Recordo uma actuação musical desenfreada dos Sitiados num programa televisivo (já não sei qual) para interpretar o tema da moda, “Vida de Marinheiro”, com uma genuinidade que comoveu todos os presentes (além de mim, comum telespectador).

Guardo como a maior surpresa que dele tive o seu projecto Megafone, pelo seu à-vontade em investir a electrónica adentro da música tradicional portuguesa com resultados tão inovadores e abertos.

E de uma forma geral, Aguardela deixa-me a impressão de ser alguém que amava profundamente a música portuguesa – em todas as fases (Sitiados, Megafone, Linha da Frente ou A Naifa) provou isso.

Obrigado, João.

[Sitiados – “Vamos ao Circo”]

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
20º R.E.M. - Tour Film Live
Sumário de várias captações ao vivo da digressão mundial da banda em 1989.

19º Vários - Festival!
Documentário de Murray Lerner sobre o Festival Folk de Newport de 1963 a 1966.

PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

domingo, 18 de janeiro de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Assim vai a contagem...

21º Vários - Live Aid
22º Sex Pistols - The Filth and the Fury
23º The White Stripes - Under Blackpool Lights
24º Abba - Abba: The Movie
25º Johnny Cash - The Johnny Cash Show: The Best of Johnny Cash 1969-1971
26º Marvin Gaye - The Real Thing In Performance 1964-1981
27º Thelonious Monk - Straight No Chaser
28º Neil Young and Crazy Horse - Rust Never Sleeps
29º Led Zeppelin – DVD
30º John Coltrane - Live in '60, '61 & '65

31º Björk - Greatest Hits - Volumen 1993-2003
32º Otis Redding - Dreams to Remember
33º Pixies - Pixies
34º Elvis Presley - The Ed Sullivan Shows
35º Beastie Boys – Video Anthology
36º AC/DC - Family Jewels
37º Paul Simon - Graceland - The African Concert
38º Rolling Stones - One Plus One
39º Depeche Mode - Videos 1986-1998
40º Ike & Tina Turner - Live in '71

41º Vários - Ed Sullivan's Rock 'N' Roll Classics - The British Invasion
42º Vários – Buena Vista Social Club
43º Vários - Message to Love: The Isle of Wight Festival
44º Ramones - End Of The Century
45º Pink Floyd - Live at Pompeii
46º Mahalia Jackson - Mahalia Jackson
47º Vinícius de Moraes - Vinícius
48º The Supremes - Reflections: The Definitive Performances 1964-1969
49º Charles Mingus - Live in '64
50º Marc Bolan And T Rex - Born To Boogie

51º Jeff Buckley - Live in Chicago
52º U2 - Zoo TV, Live From Sydney
53º Vários - American Folk-Blues Festival: The British Tours 1963-1966
54º Iggy Pop - Iggy in Paris
55º Nina Simone - Live At Montreux 1976
56º Roy Orbison - Black And White Night
57º Madonna - The Girlie Show - Live Down Under
58º Vários - Glastonbury
59º Nirvana - Unplugged In New York
60º The Flaming Lips - The Fearless Freaks

61º The Police - Everyone Stares: The Police Inside Out
62º Vários - Festival Express
63º Portishead - PNYC - Live At The Roseland Theatre
64º Sigur Ros - Heima
65º Peter Gabriel - Secret World - Live
66º Serge Gainsbourg - D'Autres Nouvelles des Étoiles
67º Prince - Sign 'O' The Times
68º Marisa Monte - Memórias, Crônicas e Declarações de Amor
69º Devo - Live 1980
70º The Smashing Pumpkins - Vieuphoria

71º The Velvet Underground - Velvet Redux: Live MCMXCIII
72º Simon & Garfunkel - The Concert in Central Park
73º Dead Boys - Live! At CBGB OMFUG:1977
74º The Who - Amazing Journey: The Story of the Who
75º The Cramps - Live at Napa State Mental Hospital
76º Siouxsie And The Banshees - Nocturne
77º The Doors - Soundstage Performances
78º Queen - Live At Wembley Stadium
79º Vários - The Concert for Bangladesh
80º Gorillaz – Demon Days Live at Manchester

81º Ella Fitzgerald - Live in '57 and '63 (Jazz Icons)
82º Bob Dylan – The Other Side of the Mirror
83º Duran Duran - Greatest - The DVD
84º James Brown - Live at Chastain Park
85º The Wire – Scottish Play: 2004
86º Dead Kennedys - The Early Years Live
87º Nick Cave & The Bad Seeds – The Videos
88º Curtis Mayfield - Live at Ronnie Scott's
89º The Clash - Westway to the World
90º Duke Ellington - Jazz Icons: Duke Ellington Live in '58

91º Wu-Tang Clan - The Legend of the Wu-Tang - The Videos
92º Stevie Wonder - Live In Japan, 1982
93º Van Morrison - Live at Montreux 1980 and 1974
94º Dizzie Gillespie - Jazz Icons: Live in '58 & '70
95º Fela Kuti - Music Is the Weapon
96º Neil Young & Crazy Horse - Year of the Horse
97º Dead Can Dance - Toward The Within
98º Miles Davis – Miles Electric: a Different Kind of Blue
99º PJ Harvey - On Tour - Please Leave Quietly
100º Minor Threat - DC Space / Buff Hall / 9:30 Club

EXCITAÇÃO DA SEMANA: OS QUAIS, «MEIO DISCO»

Jacinto Lucas Pires descobriu mais uma cruzada para a sua maleável vida: a aventura numa banda de indie-rock à portuguesa, ao lado do seu amigo pintor Tomás Cunha Ferreira, a que chamaram Os Quais - ou uma tradução catita para The Who.

Já actuaram no Cabaret Maxime há uns meses e agora têm um disco, um Meio Disco - ou uma tradução catita para a gélida sigla EP (extended play). O amigo Tomás é o bricolageiro das artes manuais, que dedilha tudo: da guitarra eléctrica ao violão, e também mexe na Bimby dos instrumentos, o milagreiro omnichord: uma aparelho electrónico que tanto pode fazer de harpa, como de piano ou de caixa de ritmos. Jacinto Lucas Pires é homem mais dado às letras e faz tudo para nos poupar à sua destreza manual: canta, faz coros e assobios, tudo menos coisas com mãos, que servem mais para cabular uns escritos giros.


Não têm o selo da FlorCaveira mas o gangue é o mesmo. A editora é o Amor Fúria, a Companhia de Discos do Campo Grande, aquela que está a cozinhar em lume brando o voo dos promissores Smix Smox Smux, banda de indie rock à minhota que aguarda consumo para mais tarde.

FlorCaveira e Amor Fúria interagem e confundem-se. E no Meio Disco, há propaganda em circuito interno - ou, numa visão menos comercial e mais católica, mimos de amigos - como os Pontos Negros que rolam no I-Pod de Lucas Pires, citando a letra da canção A Rapariga da Caixa; ou a historieta de Um Bife no Chiado que parece uma caricatura do gangue hippie-cool FlorCaveira/Amor Fúria: os "pés descalços", "ver teatro", "fumar um cigarro", coisas banais que fazem deles "uma bando à parte no Chiado".

Com tiques de sofisticação intelectual, desculpas de passatempo e brincadeiras de mero aventureirismo, a meia-dose dos Quais tem até graça. 'Recado' e 'Mondriânica' formam uma interessante conferência luso-brasileira, de bossanova servido com garrafão de vinho tinto bem português e um toque cosmopolita de rapazinhos de Bairro Alto, inventando um aperto de mão que Fausto e João Gilberto ainda não deram.

Nas outras canções, criam a sua melodia portuguesinha e envergonhada, com batidinha à Strokes (e os Pontos Negros outra vez no I-Pod), descortinando os Quais uma qualquer Alfama em Nova Iorque.

Para o fim, o remate jazzístico em jeito de spoken word, 'sobre um improviso de John Coltrane', da faixa final, 'Caído no Ringue', a teatralizar um espalhanço que no disco é virtual. Meio Disco é, na verdade, uma boa declaração de boas-vindas ao ano musical nacional. Destes aventureirismos, estamos necessitados. (Amor Fúria, 2009)

Artigo publicado no Cotonete.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
22º Sex Pistols - The Filth and the Fury
Documentário de Julien Temple sobre a versão da história polémica dos Sex Pistols contada pela banda.

21º Vários - Live Aid
Pacote de 4 DVDs que documentam o mega-evento humanitário Live Aid, ocorrido em 1985.

[Madonna - "Into the Groove"]
PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
24º Abba - Abba: The Movie
Documentário de Lasse Halström sobre a digressão australiana do famoso grupo sueco, em 1977.

23º The White Stripes - Under Blackpool Lights
Filme-concerto que documenta uma actuação do grupo em Blackpool, Inglaterra, em 2004.

PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

sábado, 10 de janeiro de 2009

CONTRA-CORRENTE: ANIMAL COLLECTIVE, «MERRIWEATHER POST PAVILION»


É atribuída frequentemente à música uma funcionalidade médica e terapêutica. Escolhemos a dedo o produto que nos interessa mais e depois consumimo-lo para um prazer que chega a ser espiritual. Descontrai, faz sonhar e até intelectualiza.

Quando ocorre o efeito surpresa, a música atinge proporções vantajosas superiores, alterando-nos perspectivas e abrindo-nos horizontes. Em abono da verdade, os seus autores são, sempre, os experimentalistas.

Há depois os experimentalistas que o grande público elegeu (Beatles, Beach Boys, Pink Floyd), e aqueles que seguiram trilhos mais marginais (Velvet Underground, Pere Ubu ou Sonic Youth). Há os experimentalistas de corpo inteiro (como os seis nomes citados acima), e aqueles que omitem a última fase, a da concretização ou conclusão.

O novo álbum dos Animal Collective, Merriweather Post Pavilion, é uma prova eloquente de que o grupo norte-americano é de um experimentalismo do 2º nível, do inacabado.

Este álbum, mesmo que mais pop e menos étnico que a maioria dos anteriores oito, cumpre as razões que fazem distinguir os Animal Colective das outras bandas, pelo seu giratório de ideias, assentes numa estética electro-noise e neo-psicadélica e, acima de tudo, na interessante apropriação das novas tecnologias computadorizadas.

Merriweather Post Pavilion é um permanente ensaio, de bombardeamento de sons teclados e de harmonias vocais, composto por alguns momentos deslumbrantes e por fantasmas de grandes melodias. Trata-se de uma experiência etérea que não sai do laboratório (não quer sair ou não consegue, a ambiguidade fica do lado dos Animal Collective). Na perspectiva médica da música enquanto remédio para alguns males, Merriweather Post Pavilion é um químico farmacêutico ainda não digerível e provocador de exaustão.

A comparação dos Animal Collective com os Beach Boys é apropriada, pela produção em série de novas sensações pop. Só que os Beach Boys traduziam-nas num todo final sublime: aquilo que é para os Animal Collective uma miragem.

Em Merriweather Post Pavilion, a existência da grande canção é virtual, uma esperança. Há esboços e pedaços de melodias encantadores, mas não há o resto. Com os Beach Boys, a grande canção era real. A efervescência criativa de Brian Wilson sabia descobrir ao fundo uma serenidade em que pudesse assentar, o que não acontece na vertigem errante da banda liderada por Panda Bear e Avey Tare.

Merriweather Post Pavilion é um exercício de rascunho que tem os seus momentos. Chamá-lo de grande álbum ou elevar os Animal Collective ao estatuto de génios soa exagerado, sobretudo quando lhes falta o projecto final de grandes arquitectos. (Domino, 2009)

Artigo publicado no site Cotonete.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

NO MEU CINEMA: “AMARCORD”, de FEDERICO FELLINI (1973)


Mais uma viagem de Fellini ao mundo do seu berço, aos anos 30 da Itália fascista, à sua cidade de Rimini. Desta vez, um retorno à sua adolescência.
Amarcord é uma síntese genial do lado nostálgico de I Vitelloni com o ritmo alucinante e absurdo de Otto e Mezzo, vitoriando a parvoeira a um nível genial.
Não há no cinema forma tão louca e brilhante de se amar a vida como na arte de Fellini.
Voltei a cruzar-me há pouco com este maravilhoso filme.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

2009: OS LANÇAMENTOS

Adenda...
Janeiro
Animal Collective - Merriweather Post Pavilion
Antony And The Johnsons - The Crying Light
John Frusciante - The Empyrean
Andrew Bird - Noble Beast
Franz Ferdinand - Tonight: Franz Ferdinand
Bruce Springsteen and the E Street Band - Working on a Dream
Robert Pollard - The Crawling Distance
Welcome Wagon - Welcome to the Welcome Wagon
Calexico - Live From Austin, TX [DVD]
Public Enemy - Revolverlution Tour 2003 [DVD]
The Yardbirds - Beat Beat Beat [DVD]

Fevereiro
Lily Allen - It's Not Me, It's You
Mos Def - The Ecstatic
Ben Lee - The Rebirth of Venus
Morrissey - Years of Refusal
... And You Will Know Us by the Trail of Dead - The Century of Self
Robyn Hitchcock - Goodnight Oslo
Six Organs of Admittance: RTZ
A Camp – Colonia
Aidan Moffat and the Best Ofs - How to Get to Heaven From Scotland
Asobi Seksu – Hush
Vetiver - Tight Knit
Robert Wyatt [caixa]
Iggy Pop: Lust for Life [DVD]
Kate Bush: Hounds of Love: A Classic Album Under Review [DVD]

Março
Neko Case - Middle Cyclone
U2 - No Line on The Horizon
The Decemberists - Hazards Of Love
Bonnie ‘Prince’ Billy – Beware!
PJ Harvey and John Parish - A Woman A Man Walked By
Arcade Fire: Miroir Noir [DVD]
Grizzly Bear

2º trimestre
Lady Sovereign – Jigsaw [Abril]
Depeche Mode [Abril]
Tortoise [Abril]

Certezas e quase-certezas
Bill Callahan - Sometimes I Wish We Were an Eagle
Plush - Bright Penny
Built To Spill [Primavera]
Massive Attack [Primavera]
Wilco [Primavera]
Tori Amos [Primavera/Verão]
Lisa Germano - Magic Neighbor [Verão]
Sonic Youth
Basement Jaxx
Blur
The Divine Comedy
Peter Gabriel
Gang Of Four
The Gossip
M. Ward
New Pornographers
Pearl Jam
Roxy Music [com a velha formação]
Stone Temple Pilots
Patrick Wolf
Chicks on Speed
Gomez

domingo, 4 de janeiro de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: SHEARWATER, «ROOK»


Por um atalho de cantautor dos mil e um ofícios, ao estilo de Patrick Watson, os Shearwater também experimentam de tudo, do trato erudito do piano à transcendência rockeira jeff-buckleyana. O álbum é igualmente abençoado pelo comportamento bipolar dos indie-folkers Mountain Goats, que oscila entre a meiguice romântica e uma interpretação mais colérica que racha a loiça no raio de um quilómetro. E vai mais longe, para uma espécie de prova viva da reencarnação, pelo menos a de Jonathan Meiburg (a persona dos Shearwater), que ao longo do disco tem momentos de músico barroco do século XVII, de hippie pró-folk dos anos 60 e de pós-grunger dos ano 90. (Matador, 2008)
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

[“Rooks”, ao vivo no South by Southwest, em Austin, Texas, em 2008]

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
26º Marvin Gaye - The Real Thing In Performance 1964-1981
Compilação de várias prestações televisivas e ao vivo de Marvin Gaye.

25º Johnny Cash - The Johnny Cash Show: The Best of Johnny Cash 1969-1971
Sumário dos melhores momentos musicais do célebre programa televisivo de Johnny Cash.

PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

2009: OS LANÇAMENTOS


Um feliz ano novo: eis alguns possíveis contributos. O levantamento dos lançamentos de álbuns novos de 2009 é muito parcial.

Janeiro
Animal Collective - Merriweather Post Pavilion
Antony And The Johnsons - The Crying Light
John Frusciante - The Empyrean
Andrew Bird - Noble Beast
Franz Ferdinand - Tonight: Franz Ferdinand
Bruce Springsteen and the E Street Band - Working on a Dream

Fevereiro
Lily Allen - It's Not Me, It's You
Mos Def - The Ecstatic
Ben Lee - The Rebirth of Venus
Morrissey - Years of Refusal
... And You Will Know Us by the Trail of Dead - The Century of Self
Robyn Hitchcock - Goodnight Oslo

Março
Neko Case - Middle Cyclone
U2 - No Line on The Horizon
The Decemberists - Hazards Of Love
Bonnie ‘Prince’ Billy – Beware!

2º trimestre
Lady Sovereign – Jigsaw [Abril]
Depeche Mode [Abril]

Certezas e quase-certezas
Built To Spill [Primavera]
Massive Attack [Primavera]
Wilco [Primavera]
Tori Amos [Primavera/Verão]
Lisa Germano - Magic Neighbor [Verão]
Basement Jaxx
Blur
The Divine Comedy
Peter Gabriel
Gang Of Four
The Gossip
M. Ward
New Pornographers
Pearl Jam
Roxy Music [com a velha formação]
Stone Temple Pilots
Tortoise
Patrick Wolf