quinta-feira, 19 de março de 2009

BRASIL FATAL: CÁSSIA ELLER (1962-2001)


A INFLUÊNCIA

Cássia Eller foi um dos grandes ícones femininos do rock brasileiro. Graças à sua voz grave poderosa, fez a diferença como uma intérprete que deu nova vida a composições de ídolos brasileiros como Cazuza (sobretudo Cazuza), Caetano Veloso, Mutantes, Renato Russo (da Legião Urbana) e Chico Buarque. Mas também de ícones do rock mundial como os Beatles ou Jimi Hendrix.

Carioca (do Rio de Janeiro, portanto), mas de residência itinerante por vários pontos do Brasil ao longo da sua vida, foi na capital Brasília que se revelou, numa carreira musical que, de 1990 (quando o álbum de estreia, homónimo, foi lançado) até ao auge, em 2001, progrediu sempre em crescendo.

Tocadora de violão (baixista pontual), Cássia Eller era uma rocker de inspiração blues que fazia algumas tangentes ao MPB (Música Popular Brasileira). A sua interpretação mais conhecida continua a ser ‘Malandragem’, composta pela dupla Cazuza e Roberto Frejat (que fez maravilhas nos Barão Vermelho), que Ângela Ro Ro recusou antes interpretar. ‘O Segundo Sol’ de Nando Reis (que brilhou nos Titãs) foi outro êxito que se deu bem com o airplay radiofónico e, sobretudo, com o seu público. Outra das interpretação mais populares era ‘Por Enquanto’ (composição de Renato Russo) - na realidade, foi esse o seu primeiro grande êxito.

Em vida, lançou cinco álbuns de estúdio e três ao vivo. “Cássia Eller Acústico”, gravado para a MTV Brasil, foi o álbum mais vendido de sempre, que teve como arranjador Nando Reis.

Eller esteve em grande no Rock in Rio, em 2001, com um enorme à-vontade (e até exibiu os seus seios num acto irreverente à rock & roll mas nunca sensacionalista), numa actuação vespertina que teve como consagração a sua famosa versão de ‘Smells Like Teen Spirit’ dos Nirvana (que o antigo baterista Dave Grohl elogiava).

Mulher brava - chegou a ser assistente de pedreiro - e lésbica assumida, familiarizou os seus admiradores com o seu ar masculino, braços tatuados e cabelo curto (às vezes rapado, às vezes até com crista punk). Está imortalizada como uma das maiores cantoras do Brasil.

A MORTE

A sua faceta mais negra incluía grandes problemas com álcool e drogas. Em 2000, Cássia Eller concluiu uma cura de desintoxicação que durou dois anos. Segundo os relatos da cantora, sentia-se limpa de drogas em 2001.

Mas nesse ano, surge outro problema que o seu sucesso acarretaria: o excesso de trabalho. O ano de 2001, em que actuou no Rock in Rio, estava a ser particularmente desgastante para a cantora. Só nos últimos 7 meses Cássia Eller tinha dado 92 concertos. No Natal que passa com a família em Brasília, Cássia Eller dá sinais de um estado emocional alterado. No dia seguinte, num ataque intempestivo, parte uma porta de vidro que lhe provoca ferimentos na testa (com hematoma) e nas coxas, que permanecem visíveis quando se desloca ao Rio de Janeiro para preparar o concerto do Reveillon naquela cidade.

No dia 28, o ensaio com a sua banda decorre num clima de “cortar à faca”, por causa do mau humor da cantora. Quando a percussionista Elaine Moreira (Lan Lan) a leva a casa de carro, percebe que a cantora não está bem. Mas Cássia Eller prefere passar a noite sozinha no seu apartamento.

Na manhã de 29 de Dezembro, Cássia Eller sente-se mal, queixando-se de enjoos. Telefona a Lan Lan de uma cabine telefónica. A percussionista vem em seu socorro, com mais duas amigas comuns. Segue-se um passeio mas Cássia Eller aumentou as suas queixas, chorando de dores. Chegou a vomitar. Deslocam-se ao hospital.

Por falta de vaga no Centro de Tratamento Intensivo, é internada às 13h00 na clínica Santa Maria, no Rio de Janeiro. Assustada com o número de pessoas que se aglomeravam na clínica, Cássia Eller desesperou e fugiu para o carro minutos antes. O director da clínica, Gedalias Heringer Filho, informa depois a imprensa que Cássia Eller chegou ao centro de saúde “com quadro de desorientação e agitação, tendo evoluído rapidamente para depressão respiratória e parada cardiorrespiratória” (citando o Folha de S. Paulo).

Cássia Eller sofre três paragens cardíacas na clínica. Tenta-se reanimar o corpo. Mas às 18 horas, o seu estado de saúde agrava-se consideravelmente. Às 19h05, é declarado o óbito.

O relatório médico apontou a overdose de drogas como causa da morte. Mas a origem da morte que ganhou mais consistência foi a de stress. As causas do falecimento levantaram tantas suspeitas quanto a assistência médica (desconfiou-se de discriminação no atendimento à cantora durante todo o período de aflição que antecedeu o internamento).

Cássia Eller deixou órfão um filho de oito anos, que ficou aos cuidados da sua companheira amorosa Maria Eugénia Vieira. Chicão, como a mãe Cássia lhe tratava, já tinha perdido o pai,o baixista Otávio Fialho, num acidente de viação, dias antes do seu nascimento.

Postumamente, foi editado o álbum “Dez de Dezembro”. Cássia Eller tinha 39 anos.

Último texto do especial Brasil Fatal, publicado no Cotonete.

3 comentários:

Inês disse...

gostei muito deste.

ines

Gonçalo Palma disse...

Obrigado, Inês.

Jessica disse...

gostei muito, as informações são bem precisas, brigadão