
Sem que, aparentemente, o novo álbum "The Suburbs" tenha a mesma mina de oiro de "Funeral" ou, até, de "Neon Bible", os Arcade Fire dão a volta de outra maneira, apostando numa maior magnitude, tornando-se ainda mais hercúleos do que já eram. O ideal épico do grupo encontra plataforma num álbum mais duradoiro (16 faixas), mais difícil; e, contrariando os ditados populares, a quantidade leva-os a uma maior qualidade.
À superficície do enorme recheio de "The Suburbs" está uma energia adolescente ainda imaculada que dá a sensação de que os vários anos de sucesso e de vida mais adulta ainda não amoleceram os Arcade Fire - como 'Ready to Start', 'Modern Man', 'Empty Room' ou 'Month of May' ilustram. E há a ilusão deste ser um álbum mais eletropop que os demais, graças a maravilhas como 'Ready to Start' ou a penúltima faixa 'Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)' que aproxima Régine Chassagne cada vez mais a Jill Birt, a menina dos teclados dos Triffids que também fazia vozes.
Mas por trás da superfície e da ilusão, "The Suburbs" é, na substância, um álbum de baladas, talvez o grande álbum de baladas dos Arcade Fire. O tom do disco é mais contemplativo e cinematográfico, com o fantasma intermitente de Bruce Springsteen à flor da pele. Com maior ou menor dramatismo barroco, 'Rococo', 'Half Light I', 'Wasted Hours' ou 'Deep Blue' (podemos citar mais) são músicas ternurentas que fazem a diferença: em qualquer contexto, em qualquer discografia.

«Uma mistura entre Depeche Mode e Neil Young», é assim que os autores definem o novo álbum. De corpo sonoro pop-rockeiro, a alma do grupo parece procurar em fundo outra coisa, algo mais folk e, quem sabe, mais country... Os Arcade Fire acabam de dar um grande passo adiante e já vêem o futuro à frente. (Merge, 2010)
Artigo publicado no Cotonete que pode ler aqui.