quinta-feira, 22 de julho de 2010

Reportagem em Benicàssim: quarto e último dia


O Festival Internacional de Benicàssim (FIB) - que tão bem faz do banhista um melómano e vice-versa - encerrou ontem com o espectáculo poderoso dos Gorillaz, sob a aura da megalomania de um concerto que podia ser de estádio. Muita coisa mudou no conceito ao vivo do projecto de Damon Albarn desde a única passagem dos Gorillaz por Portugal (em 2002). Os músicos já não se escondem por trás de um enorme pano gigante transformado em ecrã; expõem-se hoje tanto como qualquer outra banda; e a banda desenhada de 3D, Murdoc e companhia já não é o exclusivo dos clips do ecrã gigante agora alojado alguns metros acima dos instrumentistas.


Damon Albarn (na foto) está bem mais humilde que aquele Damon Albarn ao serviço dos Blur da fase áurea do brit-pop. É ele o simpático (!) comandante deste filme musical tão caro, saltando várias vezes dos teclados para a zona da frente do palco, pulando, rappando, cantando e espalhando água para cima da multidão. Ainda por cima, pode, através dos Gorillaz, comprar a história: tem na sua banda ao vivo os ex-membros dos Clash, Mick Jones (na guitarra) e Paul Simonon (no baixo); e conta com os préstimos vocais da lenda de soul/blues Bobby Womack. Torna-se também num mecenas que aposta em talentos mais desconhecidos como a cantora nipo-sueca Yukimi Nagano (dos Little Dragon).

O espectáculo dos Gorillaz no FIB é um carrossel multicultural. Tanto pode projectar imagens da dança de ventre arábica, caracteres japoneses ou o clip oficial de Stylo que tem Bruce Willis como protagonista de uma perseguição de carros com os companheiros de Murdoc. Tanto passa por duelos entre rappers (com Damon Albarn sempre com uma palavra a dizer), como pela balada mais ambiental à Brian Eno (On a Melancholy Hill) ou mais bluesy (Cloud of Unknowing)... Sempre com a palavra festa na mira. Este foi o maior e um dos melhores concertos do festival.


O antecessor dos Gorillaz no palco principal (Escenario Verde) foi Dizzee Rascal, que continua um rapper velocista (talvez mesmo um recordista do Guiness nesse campo). Com uma camisola e um chapéu (com pala para trás) dos Los Angeles Lakers, pode já não ter a autenticidade revolucionária de há cerca de cinco anos. Mas Rascal prova ser mais que o cromo nº1 do grime; pode também ser um ídolo de festival no palco maior. Noutro palco, os Echo & The Bunnymen iam galgando pelo seu historial de pós-punk poético - ­Seven Seas, The Killing Moon ou The Cutter foram tocadas. Nem mesmo o ar veraneante de Benicàssim convence Ian McCulloch a prescindir do seu ar invernoso, envergando um comprido casaco e exibindo aquele ar soturno de óculos escuros e cigarro na mão que é um bónus charmoso a uma colheita cancioneira que continua a ser memorável. Mas será que os Echo & The Bunnymen já deixaram de acreditar nas suas canções mais recentes?, é a pergunta que esta actuação levanta.

Algum tempo antes, no mesmo palco secundário (Escenario Fiberfib.com), os Foals impressionaram com um indie-rock que é uma metralhadora de acordes de guitarra múltiplos num curto espaço de tempo que, quando acalma, roça o ambiente de dream-pop dos Sigur Rós.

«Olá, sou a Ellie Goulding; temo não chamar-me Lily Allen». Foi assim que Ellie Goulding brincou com a promoção em cima da hora para substituir Allen (de baixa por motivos de doença) no palco principal. Não acusou a responsabilidade; também gosta de ter um bombo de bateria junto ao microfone para aumentar o dramatismo da perfomance. Mas parece uma intérprete de um folk-pop sucedâneo, algures entre Florence and the Machine e The Corrs.

Foto: Joana Baptista
Artigo publicado no Cotonete.

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