quinta-feira, 22 de julho de 2010

Reportagem em Benicàssim: terceiro dia

O sábado esteve entregue às grandes lendas britânicas do passado, mesmo que oriundas de períodos diferentes: The Specials, PIL, Ian Brown (na foto), Prodigy. E lendas do passado é o que se poderia também chamar aos Ash que foram o primeiro nome forte do dia. Com uma actuação enérgica (dir-se-ia esforçada), agraciada por hinos dos anos 90 como Oh Yeah e Girl from Mars que fizeram deles uma alternativa mais rockeira ao britpop, os Ash parecem numa luta perdida contra o tempo. A crise de crescimento e a inexistência de qualquer mudança pouco lhes dá mais ao fim destes anos todos que a irrelevância de uma actuação vespertina que passou despercebida. Com o tempo de hoje a seu favor estão os Cribs que logo a seguir, num dos palcos secundários, aproveitaram a onda de entusiasmo em relação ao seu último álbum Ignore the Ignorant para agitar a maré de gente com o seu rock pós-punk assente nalgum classicismo - e, recorde-se, com o guitarrista ex-Smiths Johnny Marr na formação.

Quem não esteve à altura da adesão popular foram os Specials que, contrariando a disposição festiva e dançante da multidão, nos deram uma actuação morna mesmo que pontuada por temas populares como Monkey Man e A Message to You Rudy. A disposição desinteressada do principal vocalista destes dinossauros do ska, Terry Hall, retira consistência a um concerto que se queria de espírito anímico. A inexistência de encore (e havia condições para tal), e do pedido Ghost Town, é o final desajeitado de um concerto que devia ter sido melhor. O verdadeiro Monkey Man foi mesmo Ian Brown que se mantém fiel aos seus gestos símios e ao fotogénico levantamento no ar da sua pandeireta numa bonita imagem de auto-glorificação. Como acontecia nos Stone Roses, o hino I Wanna Be Adored abriu o concerto (tocado em câmara lenta, tal como aconteceu na actuação desastrosa da extinta banda em Vilar de Mouros). Depois bastou picar nos mais electrónicos temas a solo para provar que, das lendas da noite de ontem, o pouco saudosista Ian Brown é quem está em melhor forma no novo milénio.

«Ali está a feira dos tolos», aponta John Lydon para o que se está a passar no concerto dos Prodigy. Três músicas mais tarde, novo missil para as estrelas do palco principal: «há um estranho ambiente no ar, deve ser aquela porcaria ali ao fundo. Os falsos lá vão aparecendo e imitando». O pouco ortodoxo vocalista dos Public Image Ltd (e dos Sex Pistols) continua com a língua solta. Esse mau feitio continua a ser o nervo que faz dele uma autêntica fera enquanto performer, movimentando-se freneticamente na zona do microfone, e incendiando uma actuação que, mesmo que nostálgica, ilustra o poderio mono-rítmico pós-punk e obstinado dos PIL (na mesma linha de uns Wire). Os Prodigy lá iam dando a razão a John Lydon, com o seu circo de techno-punk que cristalizou há mais de 10 anos nos mesmos movimentos, nas mesmas provocações e nos mesmos temas. A verdade é que a maior moldura humana do festival foi mesmo para o colectivo do excêntrico dançarino das cristas Keith Flint.


Já com a madrugada adiantada, o electro-pop veraneante da canção Lights & Music assenta que nem uma luva no ambiente do festival e ajudou a projectar o concerto dos Cut Copy desde o início para a celebração, mesmo que ao vivo percam demasiado a perfeição de estúdio. E, noutro ponto, os mascarados Klaxons souberam encerrar muito bem o programa do palco principal com um synth-rock pouco dado a revisionismos estéticos.

Artigo publicado no site Cotonete.

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