sábado, 4 de julho de 2009

MICHAEL JACKSON (1958-2009): O GRANDE E.T. MUSICAL


À uma da manhã ligo a rádio para ouvir as notícias. Ou melhor, para ouvir a notícia, porque as outras já não consegui dar atenção. A frase “Michael Jackson morreu” teve em mim um impacto fictício, mas ao mesmo tempo já a esperava. Claro que não naquele dia, não daquela forma. Mas havia no ar um prenúncio de desgraça. O homem não estava bem.

Michael Jackson sempre teve um défice de normalidade. Na primeira metade da sua vida (até 1983), pelas melhores razões. Na segunda metade, pelas piores.

O astro de Gary era um sobredotado da música com um poleiro humanamente inatingível para um indivíduo de 24 anos e meio. Com aquela idade tinha já atrás de si um percurso público de quase década e meia. E o que tinha feito e que estava prestes a fazer não era pouco. Foi o menino-prodígio dos Jackson 5, que acumulavam êxitos e recordes de vendas inimagináveis. Iniciou, paralela e precocemente, uma carreira a solo ainda na fase etária do armário e ganhou dentro da Motown uma autonomia autoral face ao produtor que Marvin Gaye e Stevie Wonder só obtiveram em idade bem mais madura. Ainda menor, Michael Jackson tornou-se na primeira estrela da Motown a não caber naquela fábrica de êxitos (e não estamos a falar de uma editora qualquer).

Mas faltava muito mais, em pouco tempo. Michael Jackson era uma espécie de nadador de estilos, campeão em várias categorias, navegando à vontade nos mais diversos géneros: da soul ao funk, da pop ao disco-sound. Quando transformou esses géneros num híbrido empolgante e avançado que fez de Thriller uma obra visionária em 1982-83 (e que o antecessor Off the Wall fazia adivinhar), Michael Jackson merecia passar de príncipe a rei, subindo ao trono da pop onde estava a sua coroa. Para isso, fundou ainda um concepção de espectáculo ao vivo bastante mais exigente que colocava ao mesmo nível a imagem, a dança, a música e luzes, e revolucionou o conceito de promoção de um disco através dos videoclips e da MTV (numa relação profícua que alimentou mutuamente a estrela e a estação televisiva em afirmação). Como se não bastasse, Thriller, empurrado pela edição em número-record de sete singles (e, claro, de sete videoclips), tornou-se no álbum mais vendido de sempre – Thriller vendeu até hoje 109 milhões de cópias, mais do dobro do número de vendas do segundo álbum mais vendido, Back in Black dos AC/DC (a sua cifra está em 45 milhões). Aos vintes e poucos anos, o que Michael Jackson já tinha atingido era de um escala pouco terrena.

Lamenta-se, por isso, o que se seguiu: sobras que, de álbum para álbum, se afastaram cada vez mais da qualidade da obra-prima Thriller. Michael Jackson foi-se tornando numa sombra pálida de si mesmo, numa caricatura troçável bloqueada nos seus tiques, à medida que foi perdendo contacto com a realidade através de uma vida estranha e extravagante que poucos conseguiam compreender. O declínio nunca parou; o planeta que o aclamava, Michael Jackson conhecia-o cada vez menos. A magia foi murchando.

Fui uma das muitas crianças que chorou de medo quando viu pela primeira vez o vídeo da canção Thriller, realizado por John Landis. Era um misto de fascínio e de temor. Mas o fascínio foi vencendo – descobria naquele produto uma bizarria sobrenatural que era atraente; quando abria a edição vinil, havia ali um brilho espacial. Mas a idolatria infantil foi substituída mais tarde pela chacota adolescente e pelo desprezo adulto.

Porém, nunca nos esqueçamos que foi o talento quase sobre-humano que o colocou num local privilegiado do passeio da fama de Hollywood. Michael Jackson era de outro mundo. Agora, ficámos a saber que de lá já não sai de vez. Descobriu a paz, ao menos? Desconfia-se que sim.


2 comentários:

b я υ n o disse...

Engana-se... muito discos apos thriller chega a ser ate superior, comprovado ate por produtores musicais... a queda foi simplesmente devido ao q o publico "via". Pq ele sempre foi um rapaz magro, cheio de maneirismos e gostos "diferentes". O que faz o artista é o publico... e o publico o matou. Na tentativa de sempre bater na tecla de cor da pele dentre outras... ele era sempre ele, pelo contrario, muito melhor com o passar do tempo. ninguem suporta criticas de todos os lados. Deve-se apos tudo abrir mais a mente e nao repetir o q sempre tentou-se justificar. revendo videos antigos e comparando com os ultimos ele era apenas um iniciante. Simplesmente num mundo de hj com kalipsos , latinos, etc, ele foi numa boa hora... o q se procura num artista hj é o medilcre, o mais proximo de seu vizinho.

Gonçalo Palma disse...

Discordo, Bruno.

Abraço