segunda-feira, 27 de outubro de 2008

OUTRAS EXCITAÇÕES

Seguem por ordem decrescente de preferência outras excitações dos últimos tempos.
B.B. King, One Kind Favor (Geffen, 2008)
One Kind Favor de B.B. King é um dos acontecimentos do blues dos últimos 12 meses a par do último álbum de Harrison Kennedy, High Country Blues. É bom ouvir Lucille, a guitarra de King, ser tratada por mãos ainda tão distintas prontas a envaidecê-la no palco de blues clássico.

João Coração, Sessão de Cezimbra (FlorCaveira, 2008)
Homem de planos desenhados e estudioso académico de planos filmados, o anónimo Daniel deu uma folga às telas e à câmara de filmar para se aventurar em novos planos sonoros monocromáticos e de slow-motion. Inventou o seu pseudónimo musical, João Coração, e em poucas semanas descobriu o Brian Wilson que havia em si, dando ao mundo numa lufada o seu álbum de estreia, Sessão de Cezimbra: um concentrado doméstico de pop tímida e de baixa tensão incentivada em tertúlias.
Sessão de Cezimbra é uma selecção de canções de embalo para cestas de tarde de domingo, ao som de sinos e de uma variedade porreira de guitarras, das eléctricas e acústicas convencionais à espanhola e à braguesa, e pingado por coisas tão contrastantes como o trompete ou a harmónica.
Com um umbiguismo tolerável e puzzles de poucas palavras sem solução, as trovas de bicho-do-mato de João Coração abraçam elegantemente a forma mais popular da canção portuguesa, em variações que não ficam entre Braga e Nova Iorque, mas sim entre o Minho e o Nevada.

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.
Giant Sand, proVISIONS (Yep Roc, 2008)
Como vai sendo hábito, o líder Howe Gelb está no pleno gozo de uma omnipotência estilística. Tudo pode, da integridade do indie rock ao selo turístico country de uma Arizona por si inventada; do fiozinho de jazz ao de leve pela instrumentação de sopro e pelo piano solto, ao picotado latino-americano pelo mambo. Das texturas cinéfilas surf-spaguetti ao espírito do blues (do deserto do Arizona ou do deserto do Mali?). Um prodígio.
O génio das composições de Howe Gelb pode até ter desacelerado um pouco nesta colheita, ficando assim mais ao jeito pachorrento da sua música. Mas proVISIONS não deixa de ser um mestrado de sabedoria.

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.
Mafalda Arnauth, Flor de Fado (Magic Music, 2008)
Ao quinto álbum, Mafalda Arnauth esquece-se que é fadista. Ensaios de proximidade ao som de macio de caravela dos Madredeus, caloríficos latino-americanos a pedirem um pézinho de dança no salão, um dueto com Olivia Byington numa ligação infiel ao bossanova ou um tipo de música ligeira mais amadurecida ao estilo de Lara Li e, só às vezes, o fado.
A transição de fadista para cantora ainda não está no pleno. Mas dá para reconhecer a elegância da assinatura. Mais uma vez.
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

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