domingo, 30 de janeiro de 2011

Primeiras excitações de 2011


Anna Calvi, Anna Calvi
Não vale a pena armarmo-nos em grandes futurólogos. Apostar em Anna Calvi como promessa de 2011 é como fazer uma tripla no totobola. O seu talento de cantautora rocker é demasiado óbvio, e está muito bem armazenado neste fortíssimo álbum de estreia - "Anna Calvi".

Esta guitarrista inglesa arruivada, de 28 anos de idade e de sangue italiano, arranja-se como se fosse para uma festa de gala ou para um cabaret (este último, um dado denunciador): cabelo puxado, olhos densamente pintados, camisa vermelha de seda.

Só há cinco anos decidiu ser cantora. Seguiram-se seis horas diárias de ensaios de canto.

Neste seu trajecto de combate ao anonimato, 2010 correu-lhe de feição. Brian Eno aclamou-a como «a melhor coisa desde Patti Smith». Nick Cave levou-a para a estrada, para fazer as primeiras partes dos Grinderman - «vais ser enorme», segredou-lhe. Mas o melhor de tudo foi mesmo a gravação em França e Inglaterra deste fervilhante disco, co-produzido por Rob Ellis (multi-instrumentista que tem trabalhado com PJ Harvey).


"Anna Calvi" é uma manta dourada de 10 temas vulcânicos que distinguem a sua autora pela sua capacidade dramática muito acima da média. O disco tem a fúria colérica da PJ Harvey dos primeiros tempos, uma garra selvagem na guitarra que Legendary Tigerman não desdenharia, um cheiro aperfumado de cabaret, uns rebuscamentos fantasmagóricos de um tempo que não vivemos nas primeiras décadas do século passado e, acma de tudo, um toque de cantora lírica raro no mundo do pop-rock. Tal como Florence and the Machine, Anna Calvi transforma o exagero numa qualidade.

Posto de outra forma, imaginem os Goldfrapp que foram gravar "Feltmountain" (na sua fase mais rupestre) como uma banda pós-punk e sem recursos electrónicos, e talvez nos aproximamos do imaginário em que respira o power trio comandado por Anna Calvi.

O resto, que é quase tudo, será a forte personalidade de Anna Calvi a moldar. Para já, tem um clássico do rock logo à primeira tentativa: "Anna Calvi". (Domino, 2011)
Artigo muito semelhante ao assinado para o Cotonete.

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