sábado, 24 de janeiro de 2009

EXCITAÇÃO DA SEMANA: SEUN KUTI & EGYPT 80, “MANY THINGS”

Neste seu início de história, Seun Kuti aparece-nos como um afro-revolucionário, pouco agradado com os que ocupam o poder no seu continente e muito menos com o desastre das suas políticas (do início, "Think Africa", ao fim, "African Problems"). As suas crónicas de maldizer (Seun não se fica pelo escárnio) são colunas de guerra opinativas e musicadas, "megafonadas" sobre uma manta de saxofones e de percussões, e sobre uma ninhada de acordes de guitarra obstinadamente gémeos, além de coros femininos que dançam nos nossos ouvidos mesmo sem os vermos.

Álbum de afro-beat? Chapado. Está lá tudo: o estranho paradoxo de uma música de província inspirada nas grandes favelas de uma grande metrópole africana como Lagos (a capital da Nigéria); um minimalismo funk muito majestoso que lhe dá ares de subgénero mais rude de jazz; um groove em alta que nunca se descuida e que faz de Many Things uma festa contínua, sem horas, disposta a percorrer toda a madrugada.

Já vimos do pai este filme. Mas filho de peixe sabe nadar, não sabe copiar. E este é um caso de descendência pelas melhores razões e não de plágio e de subalternização. Seun Kuti é controverso mas não tão louco quanto o pai. Tem um trato mais meigo e menos intempestivo. E opta um controlo da música mais ocidentalizado, evitando durações de mais de dez minutos por tema (costume do pai).

O ritmo é o rastilho, a mensagem é o fogo, e este álbum incendeia almas e corpos. A passagem de testemunho pode ter ainda as impressões digitais do pai muito documentadas. Mas Seun Kuti tem talento e vida para dar mais mil e um virotes a esse testemunho. Para já, sabemos que o testemunho fica muito bem entregue. (Tot Ou Tard, 2008)

Pode ler artigo desenvolvido no site Cotonete.


[“Mosquito Song” ao vivo em Dakar, Senegal, em 2005]

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