domingo, 10 de maio de 2009

OUTRAS EXCITAÇÕES

Seguem-se outras excitações, alinhadas por ordem decrescente de rendição...

Arbouretum, Song of the Pearl (Thrill Jockey, 2009)
Com uma proximidade cavernosa a contemporâneos como os indie rockers canadianos Black Mountain, os Arbouretum fazem do seu mais recente álbum uma obra de grunge em câmara lenta, como se a densidade grave de bandas como os Soungarden ou os Alice in Chains tivesse passado pelas mãos de uns mais harmoniosos e desacelerados Crosby, Stills, Nash & Young.

O líder deste quarteto de barbudos da montanha é o guitarrista Dave Heumann, equipado divinamente por um instrumento precioso nas cordas vocais que lhe dá aquela grandiosidade melódica que abençoa Eddie Vedder, dos Pearl Jam, ou Mark Lanegan, ex-Screaming Trees. A voz de Heumann é uma luz para o fascinante ponto de intercepção entre doom e americana dos Arbouretum.

Este álbum é um delicioso arrebatamento de ex-corredores de asfalto por um tractor.

Extracto parcial e editado de um artigo assinado para a secção Cotonete Play, sobre a canção “False Spring”, que pode ler aqui.

Bill Callahan, Sometimes I Wish We Were an Eagle (Drag City, 2009)
O "segundo álbum a solo" (sim, merece aspas), "Sometimes I Wish We Were an Eagle", tem como razão principal para não ser esquecido o reforço do arranjo de cordas que acentua o dramatismo bucólico da música de Bill Callahan.

Claro que Callahan continua um Nick Drake das pradarias americanas e um herdeiro legitimado da country contemplativa de Townes Van Zandt, carregando com aquele borburinho da batida dos Velvet Underground sempre algures. Mas agora ele é um compositor que merece a consideração de uma nova força sublime, mais numerosa: um combinado épico de violinos, violoncelos e trompas que enrolado no seu combo rock causa ainda mais estilhaços nas almas melómanas.

Como vai sendo tradição em Bill Callahan, "Sometimes I Wish We Were an Eagle" promove o que há de melhor e de mais imprevisível na música: os contrastes. Este é um álbum tão monocórdico e tão multi-direccional. Tão (ilusioramente) chato e tão charmoso. Tão repetitivo e tão criativo. Tão arrebatador e tão contido. Tudo, comoventemente, ao mesmo tempo.

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

PJ Harvey & John Parish, A Woman A Man Walked By (Island, 2009)
Volta e meia, no meio dos seus trajectos individuais entre a agitação citadina das grandes metrópoles ocidentais e a calma do mar inglês de Dorset (do sudoeste da ilha), PJ Harvey regressa ao seu porto de abrigo: o amigo e parceiro musical de há muito John Parish. Como se procurasse um conselho, um momento de meditação, junto de alguém que tão bem a conhece.

Parish, como o amigo confidente, e sempre solicito, diz-lhe então o que pensa. Através de pequenas notas (musicais). Retoma-se assim, 13 anos depois, o método de outro álbum, "Dance Hall at Louse Point", que os uniu em co-autoria: John escreve as pautas, Polly Jean trata das letras; John é o músico, Polly a intérprete.

Mas "Dance Hall at Louse Point" e "A Woman A Man Walked By" são álbuns muito diferentes. O primeiro é uma linha contínua que faz de cada faixa uma peça ao serviço de um puzzle. O segundo parece um vôo picado ao passado de PJ Harvey, sobretudo aos álbuns que escaparam às mãos de John Parish, como se o músico lhe quisesse segredar dicas do que a cantora devia ter feito.

John Parish é o ponto de apoio, mas a estrela, a fogosa, é PJ Harvey. Quando as composições são da cantora, têm um brilho desmedido. Nas mãos de John Parish, as músicas têm uma qualidade um bocadinho mais normal. Porém, que fique claro, "A Woman A Man Walked By" tem substância quanto baste para convencer qualquer fã de PJ Harvey. A cantora trata-se bem.

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

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