quinta-feira, 21 de maio de 2009

OBRIGADO, BÉNARD

A Cinemateca foi durante anos uma espécie de segunda casa para mim. Além dos ciclos que seguia apaixonadamente, era um sítio onde revia velhos amigos, onde fazia outros e onde, volta e meia, via aquela figura bonacheirona e sábia que dava pelo nome de Bénard da Costa, o guardião cultural da casa - que ia aparecendo.
Aquelas simpáticas Folhas da Cinemateca, que se liam após cada sessão, denunciavam assinatura por Bénard sempre que as mesmas tinham quatro páginas em vez das habituais duas. E não se conseguiam deitar fora de tão bem escritas – que. claro, nunca se conseguiam resumir ao cinema, havia ali uma graça luminosa com muito mais fontes (literatura, pintura, música clássica, religião, política). Tenho ali um dossier grosso que as guarda quase todas.
Numa deliciosa entrevista dada a Clara Ferreira Alves (como eram todas as que dava), Bénard da Costa confessava não poder acreditar na mortalidade da alma, não admitia que a riqueza humana de um indivíduo pudesse desaparecer só porque o seu corpo morria. Eu também não acredito. Esse reservatório não-táctil de impressões, intuições, gostos e conhecimentos que distinguia Bénard tem que ir para algum lado. Não vai assim com uma aragem.

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