quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
BRASIL FATAL: CARMEN MIRANDA (1909-1955)
A INFLUÊNCIA
Maria do Carmo Miranda da Cunha é portuguesa de nascença (natural de Marco de Canavezes) mas carioca de alma. O mundo conheceu-a e idolatrou-a como Carmen Miranda, e ficou na história como a maior embaixadora do samba.
Emigrou com os pais ainda em bebé para o Brasil, e cedo despontou para uma carreira artística de sucesso no difícil mundo do espectáculo. Estrela de rádio nos anos 30. Estrela de casino. Estrela dos musicais norte-americanos. Estrela de Hollywood. Estrela.
Tornou-se na mãe do tropicalismo, com o seu ritmo de sambista que os filmes de Hollywood ajudaram a popularizar a uma escala mundial. Tropicalizou os velhos musicais americanos com aquele gostozinho especial e tornou-se na maior bandeira do Brasil durante a II Guerra Mundial e nos anos seguintes.
Graças à magia da sua arte performativa, transformou numerosas músicas, como ‘Cantoras do Rádio’ ou ‘O Que É Que a Baiana Tem’, em clássicos. Imortalizou filmes como o brasileiro “Alô, Alô, Carnaval” (1936), protagonizado com a irmã Aurora, ou o hollywoodesco “The Gang's All Here”, e lançou um complexo de culpa criminoso às longas-metragens que se perderam que a tinham como protagonista.
O seu nível de celebridade é tal que Carmen Miranda chega a actuar num banquete para o Presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, em 1940. Foi usada pelo Estado norte-americano como o símbolo da Política de Boa Vizinhança que os Estados Unidos implementaram durante a 2ª Grande Guerra que pretendia atrair a imigração de população latino-americana. E torna-se na artista mais bem paga do cinema.
A história não esquecerá o toque exótico que não se cansou de dar a Hollywood, com aquela imagem da fruteira na cabeça e aquele sorriso doce.
A MORTE
A vida de Carmen Miranda em Hollywood foi árdua. Desumanamente árdua. Comprometida por contratos que não conseguia recusar e mal casada com o seu empresário inábil e alcoólico, Carmen Miranda tenta manter o ritmo de trabalho e as poucas horas de sono à custa do consumo de pílulas e de tranquilizantes. A somar ao vício dos barbitúricos, Carmen Miranda torna-se alcoólica.
Carmen Miranda tem um aborto espontâneo em 1948, e o seu corpo vai cedendo, à medida que a dependência dos químicos aumenta. O seu regresso ao Brasil, catorze anos depois, em 1954, é aparatoso. Mas o seu ar magro choca os seus concidadãos. E faz uma cura de desintoxicação no seu país, que dura vários meses.
Após a aparente recuperação, regressa aos Estados Unidos em Abril de 1955, e ao ritmo intenso de espectáculos ao vivo, tanto em Cuba (à época, um país americanizado) como em Las Vegas. Mas regressam também os maus hábitos: o consumo de barbitúricos.
Nos primeiros dias de Agosto, actua no programa de TV do comediante Jimmy Durante, no qual sofre uma ligeira quebra duranta uma dança e é obrigada a apoiar-se no anfitrião que, muito profissionalmente, sabe disfarçar e manter o dinamismo. Na mesma noite, Carmen Miranda organiza uma pequena tertúlia com amigos na sua mansão de Beverly Hills. Bebeu, fumou cigarros e até cantou. Às duas da manhã, quando se encaminhava para o quarto, após ter retirado a maquilhagem na casa de banho, sofre um colapso cardíaco fatal. É encontrada morta pela sua empregada.
A consternação com o sucedido é grande, sobretudo no Brasil, para onde o corpo, embalsamado, é encaminhado no dia 12 de Agosto de 1955. O Rio de Janeiro assiste a um dos maiores cortejos fúnebres, é acompanhado por meio milhão de pessoas, num percurso que passa por alguns dos sítios do Rio de Janeiro importantes para a vida de Carmen Miranda, como a barbearia do pai, ou a rádio onde a dançarina trabalhou. Carmen Miranda tinha 46 anos.
Texto publicado no Cotonete. Pode ler aqui o especial Brasil Fatal.
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