sábado, 26 de julho de 2008

EXCITAÇÃO DE SEMANA: FLEET FOXES, «FLEET FOXES»

Há por aí uma espécie de rock de floresta, de êxodo urbano, que migra espiritualmente das grandes cidades para meios campestres mais agrestes e isolados. A música tem uma natureza eremita e uma identificação geográfica localizada nos estados americanos mais invernosos, daqueles que têm muitos lagos, casotas de madeira e neve: falamos do norte dos Estados Unidos e do Canadá.

O lado mais rude desta espécie é retratado pelos canadianos Black Mountain. O lado mais dócil está expresso pelos estado-unidenses Band of Horses. Mas o grandessíssimo álbum de estreia dos Fleet Foxes (o nome de "raposas velozes" do grupo é apropriado ao género) comprova progressos importantes quanto à referida espécie, que não se confinam a um território pop-rock mais rígido.

É até a esse plano mais firme e reconhecível que o álbum homónimo deste quinteto de Seattle dedica a sua primeira metade, e que bem o faz. Com essa primeira metade, o ASSUNTO poderia ficar arrumado quanto ao talento de composição de canções mais do que evidente dos Fleet Foxes.

'Sun It Rises' recebe uma belíssima nota introdutória de gospel, 'White Winter Hymnal' é abençoado por um tom natalício e as harmonias vocais plenas de alma são tudo neste disco e relembram que a voz é o instrumento mais catalisador de todos. Apesar destes exotismos, a primeira parte do disco compreende sons familiares, perfilhando os Fleet Foxes um deslumbramento (deslumbrante) de folk-rock que revê algumas dicas deixadas pelos Byrds, por Neil Young e, sobretudo, por Tim Buckley

Mas depois, com um golpe de uma asa denominado 'He Doesn't Know Why', e com outro golpe de outra asa (e logo a seguir outro, e outro e outro), o álbum larga terra firme e inicia um voo musical até a um plano fantástico. Afinal, o ASSUNTO opinativo sobre os Fleet Foxes não estava arrumado.

O diagnóstico inicial é esmagado por uma liberdade desmedida que toma de assalto a segunda metade do disco, com coros da dimensão transcendente à altura dos melhores Beach Boys mas com um charme de orvalho florestal que nada tem a ver com pranchas de surf, e registam-se ainda vocalizos ininterruptos que se sobrepõem 'ad eternum', melodias folk idílicas e sobredotadas, um uso luxuoso de sons pop radiosos e a utilização da voz do líder Robin Pecknold como se a mesma fosse um cristal frágil e valioso.

A perspectiva musical que delimita horizontes de "Fleet Foxes" faz deste álbum um clássico imediato desta década. Belíssimo, ofuscante e revelador. (Bella Union, 2008)
Artigo publicado no Cotonete, no dia 22 de Julho.

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