quinta-feira, 22 de julho de 2010

Reportagem em Benicàssim: segundo dia

O segundo dia do Festival Internacional de Benicàssim correu, e bem, ao sabor do electro-pop. E nesse campo houve um grupo que se distinguiu: os Hot Chip. Ao contrário do que é apanágio dentro do nicho, o colectivo londrino nega qualquer compromisso desenvergonhado com os anos 80. Através de uma performance muito dançada, e com todos os seus membros a distribuirem-se numa placa giratória multi-instrumentista, os Hot Chip empunharam os seus temas mais célebres, num cruzamento neo-milenar improvável entre Kraftwerk e Gang of Four (embora a milhas de ambos, a milhas de tudo). Mostraram serviço notável, mesmo que com a concorrência de alguns exibicionistas nus que se erguiam acima do imenso mar de cabeças da assistência.


Antes, também pelo palco principal (Escenario Verde), esteve Julian Casablancas, com uma banda mais numerosa que os seus Strokes (o vocalista está a ser acompanhado por mais seis instrumentistas). Quem o vir no Meco, pode esperar dele uma actuação que vai incluir temas dos Strokes (ouviram-se ontem Reptilia ou Modern Age, entre outros) que não colidem com o formato synth-pop da colheita a solo do álbum Phrazes for the Young que está agora a apresentar. Com um visual de pequenas excentricidades (da madeixa de cabelo oxigenada à unha da mão pintada), Julian Casablancas gracejou com o facto de não falar nada de castelhano, mesmo tendo dois nomes espanhóis (J. Fernando Casablancas). Foi o vocalista nova-iorquino que deu origem à primeira grande mobilização de massas, ao início da noite.

Também em bom plano, e igualmente sob o signo do eletro-pop, estiveram os Goldfrapp num dos palcos secundários (o Escenario Fiberfib.com). A ventoinha do palco simulava um vento que não existia (a noite foi outra vez quente e dispensou camisolas de manga comprida) e levantava no ar o vestido curto e prateado de Alison Goldfrapp, e o ambiente era o de uma viagem aos anos 80 à bruta. Com um alinhamento em regime best of, sobretudo dos últimos tempos (lados-A como Believer, Alive ou Rocket foram escutados), o toque kitsch e abbesco da banda inglesa caiu bem no festival.

Mas o momento de glória do segundo dia coube aos Vampire Weekend (na foto), no Escenario Verde. A cada tema - Cape Cod Kwassa Kwassa, Cousins, A-Punk, Diplomat's Son, Oxford Comma, Horchata (refresco que abunda muito nesta região) ou Mansard Roof - os Vampire Weekend ligavam o turbo e punham a entusiasta multidão a dançar freneticamente. O mexido vocalista Ezra Koenig, que tinha a guitarra viciada nos acordes afro que lembram o Mali (excepção ao electrónico Giving Up the Gun), foi o porta-voz de uma banda que está a marcar uma época e que está a conseguir dar o salto para um estatuto de popularidade maior.

Notas elogiosas ainda para a actuação sob sol arrasador do cantautor irlandês Fionn Regan (e para as suas virtudes folk dylanescas), para a adesão dos muitos festivaleiros britânicos em torno dos ascendentes Mumford & Sons (que seguem a melhor tradição da folk inglesa) e para o DJ set de DJ Shadow já a madrugada ia avançada (que mereceu um ecrã em forma de esfera e o melhor do hip hop instrumental).

Artigo publicado no site Cotonete.

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