O festival britânico mais a sul não é afinal na Ilha de Wight mas sim na Comunidade Valenciana, em Espanha. O FIB [Festival Internacional de Benicàssim] Heineken passa praticamente por um festival de britânicos: quer a nível de festivaleiros (claramente em maioria), quer a nível de cartaz (pensado para o gosto dos habitantes da ilha de Sua Majestade), quer agora na organização (que passou pela primeira vez para mãos inglesas).
O festival respira o ambiente veraneante de uma estância balnear como nenhum outro festival em Portugal. O recinto está localizado mesmo junto à povoação - do centro de Benicàssim até ao festival bastam 10 minutos a pé. Os festivaleiros ocupam as centenas de piscinas e as agradabilíssimas praias da zona. Mas nem assim o ambiente de serenidade e de conforto da pequena cidade é posto em causa pela moldura humana que enche o recinto uns metros mais acima, junto às deslumbrantes montanhas.
No primeiro dia do festival, o grande nome histórico era sem dúvida Ray Davies, o cérebro dos ingleses Kinks e um dos mais importantes compositores pop-rock dos anos 60. Os clássicos que foi tocando como o rebelde 'You Really Got Me' (que colocou os Kinks imediatamente na ribalta) e o popular 'Lola' mereceram a vénia histórica de uma multidão de compatriotas verdadeiramente transgeracional. A sonoridade da sua exímia banda enquadra Ray Davies muito próximo de Bob Dylan e de Van Morrison (o que não é surpresa) mas percebe-se também através deste concerto que os seus temas mais agrestes foram o prenúncio do punk mais de 10 anos antes.
Mas os mais festejados foram os Kasabian (na foto), que ocuparam o palco principal (Escenario Verde) depois do ex-Kinks. Sem necessitarem de recorrer a discursos inflamados à volta da selecção espanhola campeã mundial de futebol (apesar de publicamente aclamados pelo jogador decisivo Iniesta), os Kasabian injectaram alegria entre o povo com alguns dos seus maiores hinos [como 'Fire' e 'L.S.F. (Lost Souls Forever)'] e com o poderio do seu brit-rock que, quando investe em arranjos mais electrónicos, chega a lembrar a transcendência dos Death in Vegas.
Mas muitos outros actos impressionaram. Sobretudo os Dirty Projectors, que num dos palcos secundários, trouxeram de Brooklyn (Nova Iorque) os benefícios criativos de uma ingenuidade de quem parece estar a descobrir novos sons naquele preciso momento. As guitarras exploratórias do grupo, que vão do lado ensaístico dos Sonic Youth ao bicho carpinteiro dos Vampire Weekend, as danças da teclista Angel Deradoorian e a sincronização entre as três vozes femininas e a masculina num plataforma dessincronizada com a convenção são factores que causam sensação. Para os Dirty Projectors, a canção é um projecto sempre em aberto.
Os Broken Bells (do multi-instrumentista Danger Mouse, dos Gnarls Barkley) fecharam o palco principal com um concerto iniciado às três da madrugada (normal em Espanha), e mostraram o peso orelhudo de uma das melhores colecções de canções do ano, inscritas no seu álbum homónimo. Além do entusiasmo que provocaram entre a populaça (já menos numerosa), 'The Ghost Inside' e 'The High Road' são temas que podem fazer vender anúncios.
Artigo publicado no site Cotonete.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
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