Uma espécie de "efeito de dominó", tão usado para descrever a crise de racionalidade económica actual, abateu-se há bocado sobre Lisboa. A funcionalidade da cidade lá se foi toda com uns pingos de chuva que fizeram deste sábado um dia bem mais infernal que qualquer final de tarde de sexta. Trânsito literalmente parado em todo o lado, carros avariados, túneis cortados, sirenes de carros de bombeiros a cada esquina.
Nem para encher o depósito do carro com gasolina deu. Assim que estaciono a viatura junto a uma bomba na zona do Estádio Universitário, eis que surge um funcionário com o seu zelo de falsa prontidão e com o recado para esperarmos todos uns minutinhos porque o "pessoal das caixas" estava em mudança de turno. Achei logo curioso que uma mudança de turno implicasse a paragem por uns bons minutos da operacionalidade de toda uma bomba de gasolina. Nem nunca tinha visto uma mudança de turno com oito cabeças, algumas delas de supervisores, abeiradas junto a três monitores da caixa como ar stressadíssmo. Uma mentirinha só para segurar a clientela não fará mal a ninguém, pensarão eles.
A bilheteira ao serviço do DocLisboa na Culturgest foi outro castelo de cartas abatido pelo epifenómeno. Mas ao menos puseram o jogo limpo na mesa: o serviço de internet tinha ido abaixo por causa do temporal. Logo, o serviço de venda de bilhetes estava bloqueado. Após mais um longo impasse, eis que surge um funcionário da Culturgest, noutro gesto irritante de falta prontidão, a informar que só se iam vender bilhetes para as próximas quatro sessões (presume-se, de forma improvisada e arcaica). Pergunto-lhe se uma das quatro próximas sessões é a da 21h00 que tencionava ver no Grande Auditório e que me obrigou a deslocar-me. Percebi que o funcionário não fazia a mínima ideia do que estava a dizer. Teve que consultar o meu guia, e talvez estivesse a lê-lo pela primeira vez, para poder responder à minha pergunta. Dada então a informação que eu não queria ouvir, o melhor estava para vir... teve a 'lata' de pegar num cartão de convite meu para o dia de encerramento que estava a descoberto no bolso da frente do meu casaco e retirou-o da minha posse para me informar que já não valia a pena tentar ver essa sessão. Aquele à-vontade foi de nível mas achei simpático ele ter-me devolvido o dito cartão. Há coisas más que podiam ser piores.
PS - Isto lembrou-me a sofisticação cultural dos cinemas King Triplex que cedo se desvanece sempre que temos que enfrentar as carrancudas mulheres das bilheteiras. Num dia em que me calhou a mais antipática (apesar da concorrência aguerrida, aquela senhora conseguia ser mesmo a mais antipática), sofro, já colado ao guichet e feito o pedido de compra, o acto charmoso de ver puxada e palmada da minha mão uma nota de dez euros por uma outra principesca mão, a da castigadora funcionária. Fiquei com uma branca de parvo, a reagir perplexo para a atitude daquela personagem. Mas eis que a senhora me ripostou com o ar mais sobranceiro e normal do mundo. Esta gente nunca se fica.
sábado, 18 de outubro de 2008
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