sábado, 13 de março de 2010

EXCITAÇÃO DA SEMANA: JOANNA NEWSOM, «HAVE ONE ON ME»

Joanna Newsom é, provavelmente, a artista pop mais erudita dos nossos tempos e o mais imprevisível cromo indie da caderneta deste milénio. Apareceu por volta de 2004 no meio da rede freak-folk comandada por Devendra Banhart, mas cedo se destacou como a exótica daquele gangue. Ela era afinal a bela princesa que tinha como objecto predilecto a pouco pop harpa. Newsom parecia saída de um livro de contos ilustrado, nunca de uma cena de rock barbudo.

Vinda de um mundo intemporal, Joanna Newsom especializou-se numa folk naturalista, com voz aguda de sereia intocável e direito a exclusividade estética. Quando apareceu deslumbrante, com o álbum "The Milk-Eyed Mender" (2004), as suas canções ainda encontraram encaixe nos formatos médios da bizarria indie, numa altura em que as suas músicas só tinham ainda 4 minutos para respirar.

Depois, em "Ys" (2006), Joanna Newsom desfez-se do cronómetro para poder explorar com mais à-vontade toda a sua erudição em hérculeas músicas que chegavam a ultrapassar o quarto de hora. Mais uma missão cumprida.

Para "Have One on Me", Joanna Newsom, com uma disciplina de oriental, fez uma terapia para alterar a voz: durante dois meses não pôde falar, cantar ou chorar. Submeteu-se a uma espécie de Quaresma austera para músico.

Este álbum triplo é uma síntese entre a simplicidade do primeiro longo e a maior elaboração do segundo, como se Kate Bush tivesse tido formação clássica de conservatório e se tivesse interessado por música barroca. É mais ou menos esta a Joanna Newsom que temos no novo disco. Alguém que estica a terra americana até à britânica, apresentando a folk apalache à folk inglesa rural das irmãs Shirley and Dolly Collins. Só que com harpa e a sua voz plurigutural.

Esta belo ex-modelo da Armani, de apenas 28 anos, tem a determinação dos grandes. E está cada vez maior. (Drag City, 2010)

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

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