segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A PROVOCAÇÃO DOS MY BLOODY VALENTINE

Os My Bloody Valentine deram no Rock One o concerto certo no local errado, no festival errado, no tempo errado.
No local errado? Uma actuação que obedece a um padrão intimista pensado para multidões pequenas, suportado por projecções de imagens psicadélicas e hipnótico-minimais num vasto ecrã atrás da banda, pede uma sala do género da do Grande Auditório da Gulbenkian? Será o recinto ao ar livre do Autódromo do Algarve parecido com o que aqui se pede? Será preciso dizer mais?
No festival errado? Os My Bloody Valentine são uma banda anti-concerto, anti-presença e, evidentemente, anti-festival. A postura dos guitarristas Kevin Shields (o geniozinho) e de Bilinda Butcher (que parece ter o dom de juventude eterna) é provocantemente estática e a atitude shoegazer é de um autismo psicadélico, imune aos insultos futebolísticos da arraia bárbara que se fizeram sentir. Quem os encaixotou num dia de punk adolescente, ou tem a faculdade de uma imaginação absurda, ou improvisou aos papéis uma solução de recurso acrítico (a segunda solução é de maior probabilidade).
No tempo errado? Falta um álbum novo a dar saúde artística a uma banda que, como bem provou nos arredores de Portimão, é absolutamente íntegra – não cede perante ambiente hostil... O maldito terceiro álbum já demora a sair há mais de 15 anos. Assentará bem o fardo de banda nostálgica aos My Bloody Valentine?
O resto foi um doce ataque sónico. Um paradoxo de ternura idílica com agressividade de ruído. Bem-ditos tampões de espuma! Por momentos, parecia que estava no local certo, a ver uma corrida automobilística, bem vacinado contra o barulho dos motores.

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