domingo, 1 de março de 2009
U2 – NO LINE ON THE HORIZON
O início eufórico de No Line on the Horizon origina um prognóstico falso sobre o álbum. O primeiro vaticínio é (erradamente) tão optimista quanto o rock clássico dos U2 que brilha nas primeiras quatro faixas (das onze) do novo longo, o 12º da banda.
A entrada é forte e os U2 mostram-nos logo o seu melhor no tema-título que abre o álbum: odisseia rock soalheira, de decoração ambiental trabalhada, que nada deve a semelhantes como 'Where The Streets Have No Name' (a faixa de abertura do bem sucedido Joshua Tree).
As faixas seguintes têm também tudo para cair no goto da numerosa legião de fãs. 'Magnificent', 'Moment of Surrender' e, sobretudo, 'Unknown Caller' consagram o melhor que os U2 têm: o heróico Bono ao leme de coros efusivos, o tricot eléctrico elaborado por The Edge, a energia juvenil de reguila na bateria de Larry Mullen Jr e a sábia discrição de Adam Clayton no baixo. A química de quarteto está efervescente nessas três canções.
'Magnificent', 'Moment of Surrender' e 'Unknown Caller' confirmam os rumores que apontavam No Line on the Horizon como uma aproximação ao álbum Achtung Baby. Na verdade, "No Line on the Horizon" concentra esforços numa das mais célebres canções da obra-prima de 1991: 'Misterious Ways' que foi, na altura, o ponto de encontro entre a linha tradicional do grupo e a novidade tecnológica. Este novo álbum é um conjunto de variações de 'Misterious Ways' que recupera os aromas arábicos do tema, ora em tons mais aguerridos, ora em marcha mais suave. O arsenal tecnológico de The Edge, os gritos de Bono no deserto e as canções soalheiras moldam, com poucas excepções, No Line on the Horizon.
No fundo, No Line on the Horizon confirma aquela que tem sido a disposição do grupo ao longo da década: o presente às ordens do passado e não à procura de um novo futuro. Só muda o álbum recordado: este último é um filtro mais acomodado de Achtung Baby.
Outro dado revelado pelas faixas subsequentes é o deste não ser ainda o álbum de renascimento de forma dos U2 à antiga. Quanto muito, os U2 saem do coma criativo profundo e agora dão sinais de recuperação. As primeiras quatro músicas foram só falso alarme de algo bem melhor.
O que se seguem são bonecos em cera desgarrados a imitar os U2 gloriosos. Por vezes, chegam a soar mais aos seus descendentes - como os Killers ou os Coldplay - do que à excelência dos próprios. 'Fez - Being Born', a derivação mais comprida de 'Misterious Ways', é das uma viagens sensoriais mais exigentes do disco, ao alcance banal, porém, das bandas citadas que influenciaram.
Noutros exercícios, 'White as Know' é balada contemplativa cinematográfica, de impacto bem mais modesto que um tema-primo seu como 'All I Want Is You' (a canção de encerramento de Rattle & Hum). E a faixa última 'Cedars of Lebanon' podia estar no álbum mais meditativo que os U2 prometem para o final do ano, lembrando a canção os ensaios abstractos dos Passengers (o quinteto que unia Brian Eno aos U2).
Ficou por realizar o sonho dos U2 serem produzidos por Rick Rubin (lá voltou o conselho de mesa do costume: Brian Eno, Daniel Lanois e Steve Lillywhite). Mas a banda de Bono não estava para adiar mais a experiência de um rock mais pesado.
A faceta hard-rock aparece no disco com alguma margem. Mas o galope suado retira perfume aos U2. A forma mais pesada é nos U2 um exotismo mas não uma especialidade. E talvez por isso, Get on Your Boots é o menos carismático 1º single de sempre de um álbum de U2. 'Stand Up Comedy' não passa de um sucedâneo do arrojado 'The Fly' (a primeira canção que o mundo conheceu de Achtung Baby). Só quando conseguem domesticar o cavalo selvagem em Breathe é que os U2 brilham a grande altura, com refrões épicos e um violoncelo mandão a aguentar o passo veloz da canção - esse é o melhor momento da segunda metade do álbum.
Mas, ultrapassados alguns empates recentes, este álbum soa a vitória de margem mínima. (Universal, 2009)
Artigo publicado no Cotonete.
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