quarta-feira, 29 de outubro de 2008

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
58º Vários – Glastonbury
Documentário de Julien Temple sobre o mais emblemático festival europeu: Glastonbury.

57º Madonna - The Girlie Show - Live Down Under
Registo filmado de um concerto da digressão mais controversa de Madonna, quando promovia o álbum Erotica.

PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.


60º The Flaming Lips - The Fearless Freaks
Documentário de Bradley Beesley que acompanha com intimidade o progresso dos Flaming Lips ao longo dos anos.





59º Nirvana - Unplugged In New York
Actuação acústica para a MTV, meses antes de Kurt Cobain se suicidar.


PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

PARA QUANDO EM DVD?


Sonic Youth – The Year Punk Broke
Enquanto se aguarda autorização legal de Courtney Love, a viúva de Kurt Cobain, para a edição em DVD de The Year Punk Broke, consolemo-nos com a cópia em VHS (os poucos que a têm) e com a democratização do YouTube para apreciar tão precioso documento.

1991 é o ano a que The Year Punk Broke se refere com toda a razão, e nele vemos os Sonic Youth, da fase Goo, em óptima forma, e em óptima companhia: além dos protegidos Nirvana (quando o caldo grunge estava à beira de entornar), também os Ramones, os Dinosaur Jr., as Babes In Toyland e os Gumball se cruzam nesta digressão pelos vários festivais europeus.


O documentário dirigido por Dave Markey seria dedicado a Joe Cole, actor e roadie da Rollins Band, que também figura no filme. Joe Cole seria assaltado e assassinado ao lado de Henry Rollins, meses depois de The Year Punk Broke ter sido rodado. A música “JC” do álbum dos Sonic Youth Dirty (de 1992) é nele inspirado.

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista até ao momento...

61º The Police - Everyone Stares: The Police Inside Out
62º Vários - Festival Express
63º Portishead - PNYC - Live At The Roseland Theatre
64º Sigur Ros - Heima
65º Peter Gabriel - Secret World - Live
66º Serge Gainsbourg - D'Autres Nouvelles des Étoiles
67º Prince - Sign 'O' The Times
68º Marisa Monte - Memórias, Crônicas e Declarações de Amor
69º Devo - Live 1980
70º The Smashing Pumpkins - Vieuphoria

71º The Velvet Underground - Velvet Redux: Live MCMXCIII
72º Simon & Garfunkel - The Concert in Central Park
73º Dead Boys - Live! At CBGB OMFUG:1977
74º The Who - Amazing Journey: The Story of the Who
75º The Cramps - Live at Napa State Mental Hospital
76º Siouxsie And The Banshees - Nocturne
77º The Doors - Soundstage Performances
78º Queen - Live At Wembley Stadium
79º Vários - The Concert for Bangladesh
80º Gorillaz – Demon Days Live at Manchester

81º Ella Fitzgerald - Live in '57 and '63 (Jazz Icons)
82º Bob Dylan – The Other Side of the Mirror
83º Duran Duran - Greatest - The DVD
84º James Brown - Live at Chastain Park
85º The Wire – Scottish Play: 2004
86º Dead Kennedys - The Early Years Live
87º Nick Cave & The Bad Seeds – The Videos
88º Curtis Mayfield - Live at Ronnie Scott's
89º The Clash - Westway to the World
90º Duke Ellington - Jazz Icons: Duke Ellington Live in '58

91º Wu-Tang Clan - The Legend of the Wu-Tang - The Videos
92º Stevie Wonder - Live In Japan, 1982
93º Van Morrison - Live at Montreux 1980 and 1974
94º Dizzie Gillespie - Jazz Icons: Live in '58 & '70
95º Fela Kuti - Music Is the Weapon
96º Neil Young & Crazy Horse - Year of the Horse
97º Dead Can Dance - Toward The Within
98º Miles Davis – Miles Electric: a Different Kind of Blue
99º PJ Harvey - On Tour - Please Leave Quietly
100º Minor Threat - DC Space / Buff Hall / 9:30 Club

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
62º Vários - Festival Express
Documentário de Bob Smeaton sobre uma digressão ferroviária à volta do Canadá que uniu Janis Joplin, os Grateful Dead, The Band a outros nomes, em 1970.

61º The Police - Everyone Stares: The Police Inside Out
Documentário do baterista do grupo, Stewart Copeland, a partir de filmagens suas em super 8 durante a 1ª vida dos Police.

PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

OUTRAS EXCITAÇÕES

Seguem por ordem decrescente de preferência outras excitações dos últimos tempos.
B.B. King, One Kind Favor (Geffen, 2008)
One Kind Favor de B.B. King é um dos acontecimentos do blues dos últimos 12 meses a par do último álbum de Harrison Kennedy, High Country Blues. É bom ouvir Lucille, a guitarra de King, ser tratada por mãos ainda tão distintas prontas a envaidecê-la no palco de blues clássico.

João Coração, Sessão de Cezimbra (FlorCaveira, 2008)
Homem de planos desenhados e estudioso académico de planos filmados, o anónimo Daniel deu uma folga às telas e à câmara de filmar para se aventurar em novos planos sonoros monocromáticos e de slow-motion. Inventou o seu pseudónimo musical, João Coração, e em poucas semanas descobriu o Brian Wilson que havia em si, dando ao mundo numa lufada o seu álbum de estreia, Sessão de Cezimbra: um concentrado doméstico de pop tímida e de baixa tensão incentivada em tertúlias.
Sessão de Cezimbra é uma selecção de canções de embalo para cestas de tarde de domingo, ao som de sinos e de uma variedade porreira de guitarras, das eléctricas e acústicas convencionais à espanhola e à braguesa, e pingado por coisas tão contrastantes como o trompete ou a harmónica.
Com um umbiguismo tolerável e puzzles de poucas palavras sem solução, as trovas de bicho-do-mato de João Coração abraçam elegantemente a forma mais popular da canção portuguesa, em variações que não ficam entre Braga e Nova Iorque, mas sim entre o Minho e o Nevada.

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.
Giant Sand, proVISIONS (Yep Roc, 2008)
Como vai sendo hábito, o líder Howe Gelb está no pleno gozo de uma omnipotência estilística. Tudo pode, da integridade do indie rock ao selo turístico country de uma Arizona por si inventada; do fiozinho de jazz ao de leve pela instrumentação de sopro e pelo piano solto, ao picotado latino-americano pelo mambo. Das texturas cinéfilas surf-spaguetti ao espírito do blues (do deserto do Arizona ou do deserto do Mali?). Um prodígio.
O génio das composições de Howe Gelb pode até ter desacelerado um pouco nesta colheita, ficando assim mais ao jeito pachorrento da sua música. Mas proVISIONS não deixa de ser um mestrado de sabedoria.

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.
Mafalda Arnauth, Flor de Fado (Magic Music, 2008)
Ao quinto álbum, Mafalda Arnauth esquece-se que é fadista. Ensaios de proximidade ao som de macio de caravela dos Madredeus, caloríficos latino-americanos a pedirem um pézinho de dança no salão, um dueto com Olivia Byington numa ligação infiel ao bossanova ou um tipo de música ligeira mais amadurecida ao estilo de Lara Li e, só às vezes, o fado.
A transição de fadista para cantora ainda não está no pleno. Mas dá para reconhecer a elegância da assinatura. Mais uma vez.
Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

sábado, 25 de outubro de 2008

EXCITAÇÃO-MOR: BURAKA SOM SISTEMA, «BLACK DIAMOND»


Em 12 faixas, o radar electrónico do grupo de Lil' John, Conductor e DJ Riot detecta e apropria-se do que fervilha nos subúrbios das grandes metrópoles do mundo, seja o grime (a norte) ou o funk carioca (a sul), e vai a fundo até África, alimentando a corrente frenética do kuduro.

A partir daí, o quarteto da grande Lisboa dinamita uma festa non-stop de uma electro alienígena e afro, que conquista o mundo com sons e palavras de (des)ordem que ficam em permanente órbita nos nossos cérebros. Nisso, a presença VIP da britânica MIA em 'Sound of Kuduro' é tão influente quanto a da controversa brasileira Deize Tigrona (em 'Aqui Para Vocês', óbvio candidato a próximo single) ou da angolana Pongolove que brilha sobretudo em 'Kalemba (Wegue Wegue)'. (Enchufada, 2008)

Pode ler aqui artigo desenvolvido no Cotonete.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.
64º Sigur Ros – Heima
Documentário de Dean DeBlois sobre uma digressão interna dos Sigur Rós na Islândia.

63º Portishead - PNYC - Live At The Roseland Theatre
Registo filmado da primeira apresentação ao vivo do grupo em Nova Iorque, em 1997.

PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

terça-feira, 21 de outubro de 2008

EXCITAÇÃO HISTÓRICA

U2 – Under a Red Blood Sky (CD)
U2 – Live at Red Rocks (DVD)
Pode não haver no rock a banda perfeita, mas existe o momento pop de perfeição - nem que seja por 15 warholianos minutos. Após cinco anos de muitos concertos, bom trabalho e três álbuns promissores, os U2 tocaram no ponto perfeito durante aquelas duas horas mágicas do concerto em Red Rocks, no estado norte-americano do Colorado, em 1983.

25 anos depois, os fãs dos U2 e os simpatizantes do pós-punk podem voltar a pasmar-se. O álbum ao vivo "Under a Red Blood Sky" (gravado no mesmo período promocional ao álbum "War") é reeditado (e remasterizado) e "Live at Red Rocks" ganha finalmente uma edição em DVD.
Para sorte de todos, e por mérito dos U2 (que acreditaram e investiram do próprio bolso) e de uma equipa de filmagens competentíssima ligada ao programa musical The Tube, a mítica actuação foi filmada e salva para a posteridade numa edição em vídeo, registada para sempre como "Live at Red Rocks", que já cheirava a bafio.

"Under a Red Blood Sky", mesmo que de duração curta (cerca de meia-hora), é o álbum ao vivo mais electrizante dos anos 80, que agora conhece um reforço na apresentação visual, com um booklet bem mais generoso que o inlay grosseiro e magro, feito de imagens toscas, da edição antiga. O disco é beneficiado por dois truques. Ilude no conceito, alimentando a ideia falsa de ser um registo todo ele gravado em Red Rocks, quando só duas das oito faixas o foram na verdade. E ilude na despedida da faixa final, '40': o cântico em uníssono da melodia parece uma iniciativa popular para quem não tivesse visto em "Live at Red Rocks" o dote de líder de massas que já era Bono ao incitar - longe do alcance dos microfones - o público a cantar por si mesmo a canção que finaliza o álbum "War".
Em "Under a Red Blood Sky", pode perceber-se o que os U2 realmente significavam na altura. 'I Will Follow' é um chamariz para uma invasão de palco; o militarizado 'Sunday Bloody Sunday' representa o momento de calor-mor daquela época interventiva; e 'New Year's Day' é a canção cliché do amontoado de canções invernosas mais efusivas que a história do rock já conheceu - e que é da autoria dos U2.

Num período da música de vanguarda em que o cinzentismo de bandas como os Cure ou os Echo & the Bunnymen imperava, os U2 souberam preencher muito bem a lacuna de uma música rebelde bem mais colorida. O disco ao vivo mostra que, naquela altura, não havia banda igual e eles.
Ao contrário de "Under a Red Blood Sky", a revisão de "Live at Red Rocks" conhece um acrescento substancial no alinhamento, com mais 5 músicas que as 12 que compunham a cópia em videotape. A soma substancial de tempo dá uma visão mais ampla e próxima do que aconteceu naquele memorável concerto. Fica-se a conhecer um tema de arranque diferente - 'Out of Control' em vez de 'Surrender' - ou o momento punk de Bono em tronco nu que permanecia desconhecido. E a antevisão da prestação debaixo de uma chuva a cântaros passa a ter a contribuição de uma entrevista informal aos U2, que em vez de uma contemplação deprimida descobrem logo naquele temporal uma similitude com a sua Irlanda natal - a varinha mágica do optimismo de Bono & co incluía também dotes retóricos.

"Live at Red Rocks" é o retrato de um tempo que já não existe, em que o palco e a arena se ligavam sem fosso, quando os U2 não eram apenas quatro, mas sim quatro mais o seu número de espectadores. Em Red Rocks, os U2 eram seis mil e quatro. O fã era imediatamente tomado por aquela garra impiedosa da banda irlandesa, virando também cantor, esbracejador, saltador. E membro dos U2.
Bono era um boneco de pano irrequieto daqueles que no mundo do rock & roll nos dá uma fé inabalável de que nada lhe há de acontecer: pode atirar-se para o meio da multidão (como em Red Rocks), pode subir uma altíssima torre (como fez em Vilar de Mouros, em 1982), a tudo resiste porque deve ser de pano. Puto reguila, envergava uma camisa escura sem mangas que expunha os seus braços musculados de guerreiro. Divertido e companheirista, tinha sempre uma palavra de apreço ao músico de lado (fosse Adam Clayton ou The Edge) que todos tinham que ouvir. Sempre simpático, Bono era um cavalheiro que fazia sentir como uma princesa de um conto de fadas aquela moça loira chamada a palco para uma dança a dois durante o momento instrumental de '11 O' Clock Tick Tock', apoiado por uma das mais belas pinturas de The Edge na guitarra eléctrica. Campeão das artes performativas, Bono era também uma autêntica enciclopédia musical ao vivo que pigmentava esta e aquela música com esboços de clássicos alheios.

A banda fazia a ligação ao gerador eléctrico de Bono. Larry Mullen era o miúdo baterista que qualquer banda pós-punk invejaria ter; o baixista Adam Clayton tinha uma disposição punk de menor discrição; e The Edge, arranhador de guitarras, já possuía mais de 50% da quota sonora dos U2 com a sua fábrica de acordes. Claro que "Live at Red Rocks" não é só um deleite sonoro. É uma orgia de imagens-mito: aquele anfiteatro idílico cavado entre rochas impressionantes e iluminado por tochas gigantes que parecem chamas olímpicas; a sombra do corpo de Bono a segurar uma bandeira em contra-luz; ou a sua respiração visual que, qual milagre da neblina, transformava os seus bafos em ilusões de efémeras nuvens. Tudo aquilo é de uma beleza irlandesa que a música ambiental-folk dos Clannad, 'Harry's Game', sonoriza no início e fim de "Live at Red Rocks" como o remate perfeito à perfeição.

Texto editado a partir de artigos publicados no site Cotonete.

AS MELHORES OBRAS DE SEMPRE EM DVD

Lista em contagem decrescente, inspirada num trabalho de selecção dos 50 melhores DVDs de música para votação que decorreu no Cotonete.


66º Serge Gainsbourg - D'Autres Nouvelles des Étoiles
DVD duplo que conta toda a história do cantor parisiense.


65º Peter Gabriel - Secret World - Live
Registo filmado de um concerto de Peter Gabriel em 1994.

PS - Lista pessoal elaborada no dia 20 de Abril de 2008, que inclui DVDs não formatados para a Região Europeia e exclui obras de ficção (exemplos: ‘biopics' ou musicais).

domingo, 19 de outubro de 2008

EXCITAÇÃO HISTÓRICA


Michael Jackson & Jackson 5 - The Motown Years

A propósito do 50º aniversário de Michael Jackson ocorrido recentemente, a Universal socorreu-se do magnífico catálogo da Motown para compilar os heroísmos do rei da pop naquela histórica editora, tanto pelos Jackson 5 como a solo, para o álbum triplo The Motown Years.

Por motivos legais, esta retrospectiva concentra-se apenas nos anos do "esplendor na relva" de Michael Jackson, da sua fase de príncipe encantado da pop, antes de atingir o ponto de rebuçado de "Off the Wall" (1979) e de "Thriller" (1982) que lhe permitiu a subida ao trono como rei do género.

É essa limitação que dá uma coerência extraordinária a esta compilação, a mesma que caracterizou a Motown. "The Motown Years" tem o charme doce dos anos 70, de um viveiro de ideias que abençoou a cultura negra, de que o menino prodígio Michael Jackson fez parte e em grande.

Na plenitude precoce de um talento nato, Michael Jackson não se poderia ficar pelos fenómenos teen-pop de 'ABC' e 'I Want You Back' que deram um sucesso instantâneo aos Jackson 5, quando a tenra idade da estrela não lhe permitia mais que uma voz aflautada. Através dos dois primeiros CDs de "The Motown Years" dedicados aos Jackson 5, e do último baseado na carreira a solo, percebemos que houve muito mais de Michael Jackson na Motown.

As suas virtudes tinham ao seu alcance as baladas soul segundo o espírito de Marvin Gaye (como 'Never Can Say Goodbye' e 'I Am Love', dos Jackson 5), a sintonia com os tempos das bolas de espelho da era disco (a ouvir 'Forever Came Today' e 'Life of the Party') ou provas físicas de forma desse desporto que é o funk, domesticado pelo trato pop mais meigo de Michael Jackson (conforme 'Whatever You Got I Want' e 'Get It Together' comprovam).

Esteve sempre à vista o fetiche de Michael Jackson pelo sabor doce da soul polifónica das Supremes, a que aludem êxitos dos Jackson 5 como 'Maybe Tomorrow', 'All I Do Is Think of You', 'Corner of the Sky' e, a solo, 'Got to Be There' e 'We're Almost There'.

Mas à medida que a sua auto-confiança começava a acompanhar em proporção o seu talento musical, Michael Jackson sentiu necessidade de se inclinar mais perigosamente para a pop, junto à xaropada, mas com um risco calculado de cima daquele brilho óbvio de composições como 'I'll Be There' e 'Lookin' Through the Windows' nos Jackson 5, e a solo 'One Day in Your Life', 'Ben' e 'Farewell My Summer Love', que têm quase tudo daquele romantismo puro de lar doce lar que faz parar os simpatizantes dos Carpenters.

"The Motown Years" trilha todos esses passos elegantes de príncipe, recuperando, inclusivamente, momentos mais singulares como 'Rockin' Robin' que é, aos seus modos, a sua brincadeira de criança ao rock & roll, ou temas multi-usos como 'Dancing Machine' que cobrem simultaneamente a soul, o funk e a disco, e que anunciam que estava ali algo mais que um discípulo de James Brown e do som da Motown. Em preparados de 'Billie Jean' e de 'Beat It', o voo para um estatuto maior, que faria dele um interessantíssimo rival de Prince, estava já a ser ensaiado.

O período pós-Thriller pode dar origem a matéria de justa contestação, mas não pode queimar as memórias mais antigas do passado de Michael Jackson. E nisso esta compilação faz muito bem o seu trabalho.

Texto publicado no site Cotonete.

EXCITAÇÃO-MOR: LYKKE LI, «YOUTH NOVELS»


Neste álbum de estreia, Youth Novels, Lykke Li apresenta-se como uma ninfa ameninada, proveniente do mesmo habitat fantasioso de Björk e de Anja Garbarek. Com uma varinha mágica, distribui ao mundo encantos pop, numa terra firme por dons de jazz, por um design electrónico apurado e por uma vocação erudita contemporânea. Isto é, Youth Novels é um disco de sedução imediata mas com um substrato adulto que convém não descurar mas sim decorar.
Eis mais uma exportação sueca, das muitas a seguir. A origem já não dá para nos provocar espanto. (Warner, 2008)

Pode ler artigo desenvolvido no site Cotonete.
Pode ler também um artigo sobre uma das canções mais fortes do álbum, "Breaking It Up", publicada na secção Cotonete Play.

sábado, 18 de outubro de 2008

FLOPLISBOA

Uma espécie de "efeito de dominó", tão usado para descrever a crise de racionalidade económica actual, abateu-se há bocado sobre Lisboa. A funcionalidade da cidade lá se foi toda com uns pingos de chuva que fizeram deste sábado um dia bem mais infernal que qualquer final de tarde de sexta. Trânsito literalmente parado em todo o lado, carros avariados, túneis cortados, sirenes de carros de bombeiros a cada esquina.

Nem para encher o depósito do carro com gasolina deu. Assim que estaciono a viatura junto a uma bomba na zona do Estádio Universitário, eis que surge um funcionário com o seu zelo de falsa prontidão e com o recado para esperarmos todos uns minutinhos porque o "pessoal das caixas" estava em mudança de turno. Achei logo curioso que uma mudança de turno implicasse a paragem por uns bons minutos da operacionalidade de toda uma bomba de gasolina. Nem nunca tinha visto uma mudança de turno com oito cabeças, algumas delas de supervisores, abeiradas junto a três monitores da caixa como ar stressadíssmo. Uma mentirinha só para segurar a clientela não fará mal a ninguém, pensarão eles.

A bilheteira ao serviço do DocLisboa na Culturgest foi outro castelo de cartas abatido pelo epifenómeno. Mas ao menos puseram o jogo limpo na mesa: o serviço de internet tinha ido abaixo por causa do temporal. Logo, o serviço de venda de bilhetes estava bloqueado. Após mais um longo impasse, eis que surge um funcionário da Culturgest, noutro gesto irritante de falta prontidão, a informar que só se iam vender bilhetes para as próximas quatro sessões (presume-se, de forma improvisada e arcaica). Pergunto-lhe se uma das quatro próximas sessões é a da 21h00 que tencionava ver no Grande Auditório e que me obrigou a deslocar-me. Percebi que o funcionário não fazia a mínima ideia do que estava a dizer. Teve que consultar o meu guia, e talvez estivesse a lê-lo pela primeira vez, para poder responder à minha pergunta. Dada então a informação que eu não queria ouvir, o melhor estava para vir... teve a 'lata' de pegar num cartão de convite meu para o dia de encerramento que estava a descoberto no bolso da frente do meu casaco e retirou-o da minha posse para me informar que já não valia a pena tentar ver essa sessão. Aquele à-vontade foi de nível mas achei simpático ele ter-me devolvido o dito cartão. Há coisas más que podiam ser piores.

PS - Isto lembrou-me a sofisticação cultural dos cinemas King Triplex que cedo se desvanece sempre que temos que enfrentar as carrancudas mulheres das bilheteiras. Num dia em que me calhou a mais antipática (apesar da concorrência aguerrida, aquela senhora conseguia ser mesmo a mais antipática), sofro, já colado ao guichet e feito o pedido de compra, o acto charmoso de ver puxada e palmada da minha mão uma nota de dez euros por uma outra principesca mão, a da castigadora funcionária. Fiquei com uma branca de parvo, a reagir perplexo para a atitude daquela personagem. Mas eis que a senhora me ripostou com o ar mais sobranceiro e normal do mundo. Esta gente nunca se fica.